Gordos podem fazer yoga? O relato de adeptas provando que peso não é impedimento

Pessoas gordas podem e devem fazer yoga, levando em conta que a prática propõe uma filosofia de bem-estar e inclusão (com exercícios de respiração, meditação e diferentes posturas)

Quem disse que é necessário ter um padrão de corpo para praticar yoga e outros exercícios? Existe um imaginário de que apenas pessoas magras – realizando contorcionismos e posturas difíceis – conseguem, de fato, fazer yoga. No entanto, com o crescimento das redes sociais e a luta por representatividade e ambientes mais inclusivos, muitas pessoas gordas vêm demonstrando o contrário e combatendo, de diversas formas, a gordofobia que existe no meio. Para provar que gordos podem (e devem) fazer yoga, nós conversamos com duas mulheres gordas: uma professora de yoga dona do projeto “Yoga para todos” e uma aluna que tem uma relação de mais de 10 anos com a prática. Conheça essas histórias inspiradoras!

‘Yoga para todos’ é um projeto que propõe a inclusão e democratização da prática

Que tal praticar yoga em um ambiente totalmente inclusivo e respeitoso com as diversidades? O projeto “Yoga para todos”, originário da cidade de São Paulo, propõe justamente uma prática mais acolhedora (tanto em termos de público quanto em questões financeiras). A criadora do projeto, Vanessa Joda, é professora de yoga desde 2015 e segue como importante referência no combate à gordofobia na ioga.

“A Hatha Yoga vem de um movimento chamado tantrismo, que é um movimento de contracultura. Ela é uma filosofia que não propõe apenas a prática em si, mas sim um conjunto de exercícios: as asanas, a respiração, a meditação, o relaxamento, os yamas e nyamas (que funcionam como um guia de como ser um bom iogue, em termos de ética, por exemplo). Por isso, eu falo que precisamos sair do tapete e levar tais ensinamentos para a vida”, afirma a professora de yoga.

“Mas eu pensava: ‘se a ioga é inclusiva, por que só tem eu de gorda? Por que não tem nenhuma pessoa negra ou trans aqui?’. E aí, pensando muito nesse aspecto, eu criei o projeto ‘Yoga para todos’ – um espaço de acolhimento, seguro para as pessoas que não se sentem à vontade em escolas tradicionais de yoga, onde se preza a magreza e os malabarismos de postura. A ideia era justamente democratizar a prática e levar a ioga para onde ela não chega (mas deveria chegar), porque ela propõe justamente uma filosofia de inclusão”, conclui Vanessa.

‘O fato de eu ocupar esse papel de professora de yoga, sendo uma mulher gorda, já quebra um monte de padrão’

Para desmistificar a ideia de que pessoas gordas não podem fazer yoga, é muito importante ter figuras de representatividade no meio. De acordo com Vanessa Joda, esse é um ponto fundamental no combate à gordofobia na prática de exercícios. “O fato de eu ocupar esse papel de professora de yoga, sendo uma mulher gorda, já quebra um monte de padrão. Eu costumo falar que sou resistência dentro da ioga, pois o meu corpo acaba sendo político só de existir naquele meio, de ocupar um espaço no qual ele não é bem-vindo”, afirma a iogue.

“Eu acho que o maior ensinamento é o fato de eu existir nessa prática, mostrando que eu posso fazer e convidando outras pessoas a fazerem o mesmo. E aí, quando outras pessoas gordas experimentam, elas veem que conseguem fazer também. E uma das coisas que eu falo muito na minha aula é: ‘esteja confortável’, que é justamente um dos yamas e nyamas – seguindo o saucha (contentamento e conforto na postura) e o ahimsa (a não violência com o seu corpo)”, finaliza Vanessa.

‘A gente vive em uma sociedade que fala que o corpo gordo é incapaz e não pode fazer exercícios físicos porque não é bom nisso, e o yoga me mostra justamente o contrário’

A criadora de conteúdo Bianca Barroca tem uma relação com o yoga (de idas e vindas) há mais de 10 anos. Atualmente, ela vem praticando yoga assiduamente há cerca de 3 meses e, mesmo em pouco tempo, pôde relembrar como o exercício é benéfico para a sua saúde física e mental. “O yoga me lembra que o meu corpo é bom fazendo coisas naturalmente. A gente vive em uma sociedade que fala que o corpo gordo é incapaz e não pode fazer exercícios físicos porque não é bom nisso, e o yoga me mostra justamente o contrário. Mesmo que passe muito tempo sem que eu pratique, quando eu volto à prática, percebo que, ainda assim, tenho um equilíbrio muito bom e a minha flexibilidade é muito melhor do que a média”, conta Bianca.

“Mas, além de ressaltar as capacidades que eu já tenho, o yoga também melhora algumas outras nas quais não sou tão boa. Por exemplo, eu não sou uma pessoa naturalmente muito forte, mas através do yoga consigo melhorar um pouco disso em mim. Então, eu acho que é muito disso – me lembrar que eu posso ser boa. Além disso, eu me sinto extremamente relaxada e muito calma depois da prática. É perfeito para mim!”, complementa a iogue.

‘Eu só voltei a praticar yoga quando comecei a ter outras referências, a ver outras pessoas com corpos mais parecidos com o meu praticando’

A falta de representatividade de corpos gordos na prática de exercícios, muitas vezes, funciona como um desestímulo para pessoas gordas que querem praticar yoga e outras atividades. De acordo com a iogue Bianca Barroca, a presença de outras mulheres gordas no meio (como Vanessa, que ocupa um papel importante de professora), foi fundamental para que ela não desistisse do yoga.

“A gordofobia acabou me afastando do yoga em um momento que eu estava no auge da minha prática, bem animada e pesquisando bastante, mas todas as referências que eu via eram de corpos magros. Eu olhava pessoas fazendo posturas e ficava imaginando: ‘bom, por mais que eu me esforce, não vou conseguir fazer aquela postura, porque eu não tenho aquele corpo’. E isso foi uma coisa que me distanciou muito do yoga, a ponto de eu parar de praticar durante mais de um ano”, conta.

Bianca também destaca que o papel do professor de yoga – de estimular e conduzir os alunos na prática – é muito importante para que pessoas gordas desenvolvam autoconfiança. Ela conta que sua instrutora, Ingrid Sayuri, cumpriu um papel fundamental nesse aspecto. “Eu só voltei a praticar yoga quando comecei a ter outras referências, a ver outras pessoas com corpos mais parecidos com o meu praticando. Essa minha professora me ensinou que o yoga vai muito além dessas posturas que eu imaginava não conseguir fazer. Ela também me trouxe a autoestima e o suporte para que eu confiasse na força do meu corpo e acreditasse que, pouco a pouco, conseguiria atingir lugares que eu nem imaginava. O apoio dela foi muito importante para mim nesse aspecto”, finaliza Bianca.

*Vanessa Joda tem formação nos cursos de professora de yoga, yoga para gestantes e yoga para crianças pela Escola Yogaprana (Conquiste sua Vida)

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