Igreja que prometeu “imunizar” contra o coronavírus pode ser acusada de charlatanismo

Foto: Reprodução

Um anúncio no mínimo curioso. Assim pode ser descrita a propaganda feita por uma igreja acerca de um culto que, de forma bastante taxativa, prometeu a “unção com óleo consagrado no jejum para imunizar contra qualquer epidemia, vírus ou doença”. Em destaque, o título: “O poder de Deus contra o Coronavírus”.

Este anúncio foi veiculado pela Igreja Catedral Global do Espírito Santo, que como se já não bastasse ser “global” – embora situada no bairro de São João, Porto Alegre – também afirma ser a “Casa dos Milagres”.

Ocorre que a propaganda em questão ganhou tanta repercussão que foi parar na mira do Ministério Público e do Conselho Regional de Medicina (Cremers) do Rio Grande do Sul. A denominação ligada ao Centro de Avivamento para as Nações se tornou suspeita de praticar o “charlatanismo” em nome da fé.

Segundo a promotora Angela Rotunno, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul, a suspeita é de que a denominação esteja utilizando a disseminação do novo coronavírus pelo mundo para se aproveitar da fragilidade emocional das pessoas.

“Diante da doença e da possibilidade de morte, é comum o ser humano se sentir desesperado e desamparado”, disse ela, segundo informações da BBC.

“Essa fragilidade emocional afasta a racionalidade e traz, como consequência, a facilidade em acreditar em qualquer promessa de proteção ou cura. É o que está acontecendo no momento. Pessoas inescrupulosas tentam obter vantagem desse desalento”, completou.

Para Eduardo Trindade, presidente do Cremers, outra preocupação é com a reação dos fiéis que frequentam a igreja. Assim como ocorreu na Coreia do Sul, onde milhares de pessoas espiritualizaram a questão de saúde, em vez de tratá-la como tal. O mesmo pode acontecer no Brasil.

“A questão é extremamente preocupante. A pessoa pode se sentir protegida e não adotar medidas de prevenção nem procurar atendimento de saúde. Sem querer interferir na liberdade religiosa e crendice de cada um, precisamos ressaltar que não existe proteção espiritual contra a infecção”, disse ele, segundo a Gaúchazh.

O culto do “poder de Deus contra o coronavírus” foi realizado no último domingo (01), mas autoridades da polícia civil acompanham o caso, uma vez que dependendo das circunstâncias em que tal “imunização” pode ser oferecida, o charlatanismo pode ficar configurado, o que é crime previsto no Código Penal com punição de três meses a um ano de detenção e multa.

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