A crise do coronavírus provocou uma queda brusca na inflação anual dos 37 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em abril, mas os preços da comida explodiram nesse mês.
Na média, a inflação em 12 meses da OCDE caiu de 2,3% em fevereiro para 1,7% em março e 0,9% em abril.
A alta anual no preço dos alimentos, por sua vez, foi de 2,4% em março para 4,2% em abril, maior aumento desde janeiro de 2012.
No Brasil, que não faz parte da OCDE, dados do IBGE mostram que até meados de maio o grupo alimentos e bebidas tinha inflação acumulada no ano de 5,47% (IPCA-15).
Na OCDE, os três países que registraram a maior alta em 12 meses na inflação da comida foram Hungria (8,9%), Colômbia (8,2%) e Austrália (7,4%), os três países em que houve a maior alta em abril.
O alerta sobre o impacto da pandemia nos preços dos alimentos vem crescendo, por causa de distúrbios no plantio, na colheita e na comercialização. No começo de abril, a ONU e a OMC alertaram para o risco de escassez de comida e no mês passado o alerta foi reforçado pela professora da escola de políticas públicas Kennedy School, de Harvard, Carmen Reinhart, e pelo economista-chefe do Global Markets Research, Rob Subbaraman.
Em artigo publicado no site do Fórum Econômico Mundial, eles afirmaram que a escassez de ração animal, fertilizantes e pesticidas aumentou os custos da agricultura e o risco de quebra de colheitas.
Embora os estoques de grãos ainda estejam altos, a intensidade e duração da pandemia pode colocá-los em risco, segundo os autores.
Restrições a viagens impediram a entrada de trabalhadores sazonais e afetaram a colheita de frutas e legumes na Europa e na Índia, e o avanço da doença reduziu a mão de obras em indústrias e frigoríficos nos EUA.
Com restaurantes, hotéis e escolas fechados em muitos países, as cadeias de atacado tiveram que ser reorganizadas para supermercados e entrega em domicílio, o que exige mudança tanto no preparo quanto na embalagem.
Durante a adaptação, muitos produtos frescos tiveram que ser destruídos: a imprensa europeia relatou vários casos envolvendo leite, queijo, batatas e cebolas.
Alguns dos principais países produtores de alimentos também barraram exportações, como fizeram a Rússia e o Cazaquistão com grãos e a Índia e o Vietnã com arroz.
Outros aceleraram importações para fazer estoques, como as Filipinas (arroz) e o Egito (trigo).
“Intervenções simultâneas de muitos governos podem resultar em um aumento global do preço dos alimentos, como aconteceu em 2010 e 2011”, afirmam Carmen Reinhart e Rob Subbaraman.
Cálculos do Banco Mundial estimam que o protecionismo tenha sido responsável por cerca de 40% do aumento do preço global do trigo e 25% do aumento dos preços do milho naquele período.
Em abril, a inflação dos alimentos em 12 meses na União Europeia foi de 4,3% na média, segundo a OCDE, e no G7 (grupo das sete maiores economias globais), de 3,7%.
Única exceção entre os 37 países da OCDE, a Irlanda viu deflação no preço dos alimentos, de 1,2%.
O principal vetor da queda da inflação em abril foram os preços da energia, que despencaram em média 12,2%, depois de recuarem 3,7% em março, refletindo a queda no valor do petróleo.
A redução de abril ou a maior desde setembro de 2015.
Mesmo excluídos alimentos e energia, a alta anual de preços desacelerou nos países da OCDE em abril, para 1,6%, ante 2,1% em março.
É a menor taxa de inflação, excluindo alimentos e energia, nos países do grupo desde fevereiro de 2014.
A organização ainda não tem estimativas para maio, mas o acompanhamento da agência de estatísticas europeia para os países que usam o euro como moeda mostram inflação de 0,1% no mês passado, abaixo dos 0,3% de, por causa de novo recuo nos preços de energia.
Em abril de 2020, a inflação anual diminuiu em todas as principais economias do mundo, com exceção da Rússia, onde subiu de 2,5% para 3,1%.
No G20 (20 maiores economias do mundo, do qual faz parte o Brasil), a inflação anual também diminuiu em abril, para 2,4%, em comparação com 3,2% em março. Os preços em 12 meses subiram menos no Brasil (2,4% em abril, contra 3,3%), na Argentina (para 45,6% em abril, de 48,4% em março) e na China (para 3,3%, de 4,3%).
A OCDE ressalva que as medidas de combate à pandemia de coronavírus afetaram coleta, compilação de dados e cálculo de indicadores em vários países, e que pode haver impacto na qualidade dos números, embora estejam sendo desenvolvidas ferramentas estatísticas para minimizar problemas. (Bahia Notícias)