Manchas reaparecem em PE e SE, e Mourão diz que não há mais praia suja no Nordeste

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, disse neste sábado (26) que as praias do Nordeste já tiveram o óleo recolhido e estão em condições para banho.

Ele deu a declaração após jogar vôlei com colegas em uma quadra residencial em Brasília. Mourão, que assumiu a Presidência durante o giro de Jair Bolsonaro por países da Ásia e do Oriente Médio, foi questionado pela imprensa se as praias estão boas para o banho. Ele respondeu:

“Estão [boas para banho]. O óleo já foi recolhido. Hoje acredito que não tem mais nenhuma praia suja no Nordeste. Todas estão com óleo recolhido. À medida que vai aparecendo, nós estamos deslocando os especialistas para lá, eles fazem a limpeza e praia está em condições de banho”, afirmou Mourão.

Ele citou como exemplo de praias que foram limpas as de Morro de São Paulo, na Bahia. “Morro de São Paulo tinha sido atingida e imediatamente, no dia seguinte, estava em condições de banho”, afirmou.

Embora Mourão tenha dito que as praias estão limpas, novas manchas de óleo foram vistas neste sábado em Pernambuco e em Sergipe.

O óleo atinge o litoral do Nordeste desde o final de agosto. Nesta sexta-feira (25), a Petrobras informou que a substância é proveniente de três campos de petróleo da Venezuela. Isso não significa, de acordo com a estatal, que o óleo tenha vazado desses campos. Uma das hipóteses investigadas pelo governo federal é a de o produto ter saído de algum navio que passava a centenas de quilômetros da costa brasileira.

Riscos do contato com o óleo

De acordo com o professor Ícaro Moreira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o óleo pode soltar micropartículas que se diluem na água. Ele explicou que a forma microscópica dessa substância é a mais tóxica e pode ser absorvida pela pele.

“Se a pele absorver, o óleo vai causar dermatite. Pode até entrar na corrente sanguínea e provocar uma série de consequências”, afirmou o especialista ao G1.

O professor de engenharia química Ronaldo Gonçalves alertou para os danos ambientais e sanitários ocasionados pela presença do óleo no mar.

“Para a saúde humana e para os seres vivos em geral ele é danoso”, explicou. “Vai causar irritações na pele, nas mucosas, e a longo prazo ele pode causar mutações orgânicas porque tem compostos cancerígenos que podem se manifestar.”

De acordo com os especialistas, três compostos voláteis do petróleo são extremamente perigosos para a saúde a longo prazo: benzeno, tolueno e xileno. Entre os riscos, estão o surgimento de doenças no sistema nervoso central

Centro de controle

O governo federal informou que passará a funcionar em Brasília a partir deste sábado (26) o Centro de Operações Conjuntas formado para lidar com as manchas de óleo no litoral Nordestino. As atividades vão ser desenvolvidas em uma sala do Ministério da Defesa.

Integram o grupo profissionais da Marinha, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Não-Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O Centro de Operações Conjuntas atua em parceria com diversos órgãos, como a Petrobras, a Polícia Federal e o Exército.

Os centros de operação no Recife e em Salvador vão continuar em funcionamento.

Acionamento tardio de plano

Segundo o professor Clemente Coelho Júnior, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), os efeitos do óleo seriam menos danoso se o Plano Nacional de Contingência tivesse sido acionado logo após o início do surgimento das primeiras ocorrências na costa da região.

O plano foi criado em 2013, com procedimentos a serem adotados para esse tipo de caso. As primeiras manchas surgiram no final de agosto, mas o plano foi acionado na primeira quinzena de outubro.

“Sem dúvida nenhuma, se fosse agilizado, não teria esse forte impacto, como aconteceu no litoral. Podia sim ser contido esse impacto mais próximo as costas se tivesse uma logística mais eficiente ou maior em relação a isso, mas o que vivenciamos foi uma corrida atrás do óleo”, afirmou.

De acordo com o especialista, o documento continha um conselho responsável por operacionalizar o plano. “O conselho foi derrubado por um decreto de abril deste ano. Então o plano está no papel, quem devia operacionalizar não existe mais e seria esse conselho quem iria passar as diretrizes buscando expertise para ter mais eficiência”, declarou. (G1)

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