“Senhor ladrão, peço humildemente que devolva meu computador, minha máquina de solda e minhas baterias”. O apelo, estampado numa faixa de pano na entrada de uma oficina mecânica, chama a atenção de quem passa pela esquina da rua Domingos Vieira com avenida Brasil, ponto movimentado no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
“Coloquei esta faixa para ver se o malandro se sensibiliza. Vai que um dia eu chego e meus produtos estão todos lá na porta, né?”, disse Welton Borges Rego ao G1.
Welton, de 50 anos, é o proprietário da oficina. Em 35 anos trabalhando no mesmo ponto, esta foi a primeira vez que ele foi assaltado. O crime aconteceu há cerca de um mês, quando bandidos aproveitaram a madrugada para pular o muro e levar os equipamentos da oficina.
“Quando fui trabalhar no sábado de manhã, percebi que as coisas tinham sido modificadas. O portão não foi arrombado, mas as portas do escritório foram. Neste tempo todo que estou aqui, nunca passei por nada desta gravidade. Já lidei com ‘ladrões de galinha’. Como o lote é todo cercado, tem escola, casas, prédio, a gente nunca imaginou que alguém fosse se atrever a pular o portão e a roubar”, contou.
O prejuízo estimado é de R$ 15 mil. Depois do assalto, Welton teve que gastar com serralheiro para incrementar a segurança das grades da oficina. Mas preferiu não colocar câmeras.
“É uma sensação de impotência, misturado com incapacidade, sei lá. E uma sensação que a gente, como ser humano, não está valendo muita coisa. As pessoas arrombam, invadem, é uma agressão”.
Welton faz parte de uma estatística que, segundo o governo do estado, vem caindo. De acordo com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, o número de ocorrências de furto de janeiro a setembro de 2020 é 22,5% menor do que no mesmo período de 2019. Neste ano, foram 159.564 registros, contra 206.089 no ano passado. Mesmo com a redução, são mais de 17 mil ocorrências por mês; 590 por dia.
Ainda sem conseguir o objetivo de sensibilizar o assaltante, Welton contou que já recebeu vários telefonemas. “Tem muita gente ligando. Muita gente que acha a faixa errada, que dá sugestão para tirar daqui, que pode acabar me causando um problema. Mas tem gente também que liga para elogiar”, disse.
Welton também recebeu telefonema em que se sentiu ameaçado: “Num dia teve um telefonema dizendo que a melhor coisa a fazer era tirar a faixa. Se não for quem roubou, passou perto. Deve ser da rede de malandragem”, falou.
Nesta quarta-feira (28), Welton vai prestar depoimento na Polícia Civil. A corporação afirmou que a perícia esteve no local para fazer os primeiros levantamentos e que um inquérito foi instaurado para apurar autoria e circunstâncias do fato. (G1)