O medalhista olímpico de prata na marcha atlética 20km, Caio Bonfim, desabafou após a histórica conquista, a primeira do país na prova. Filho de João Sena e Gianetti Sena Bonfim, ambos marchadores, Caio não começou no esporte quando criança. Sempre teve medo dos xingamentos que ele iria ouvir por “rebolar na rua, vagabundo, homem que é homem não faz este esporte”. Caio garantiu que com o tempo, não ligou para essas falas, percebeu ainda, que o problema não era nele, estava dentro da ignorância de algumas pessoas que surgiram. Focou, continuou, insistiu e deu a resposta contra o preconceito de poucos. “Simplesmente vivi, fechei os ouvidos para às ofensas”.
– Não estamos brincando de rebolar, somos potência, medalhistas olímpicos. Nós somos medalhistas olímpicos. Obrigado ao Brasil e a todos que apoiaram. Nessa prova nós não estamos brincando de rebolar. Nós somos uma potência. Nós somos medalhistas olímpicos. Eu fui muito xingado no primeiro dia que marchei com meu pai. Não é me fazendo de vítima. Eu só comecei com 16 anos, porque era muito difícil ser marchados. Eu decidi ser xingado e não ter problema com isso, não liguei. Difícil não foi a prova de hoje, foi vencer o preconceito, pessoas infelizmente ignorantes, elas olham a aparência – disse.
Na marcha atlética, a regra exige que o atleta não tire os dois pés do chão ao mesmo tempo e nem flexione os joelhos no momento da passada. Por conta disso, os atletas balançam o muito quadril quando fazem o movimento. E isso gera preconceito das pessoas que o encontram na rua:
– Sempre xingado quando marchava, depois do Rio mudou. Ali eu fui 4ª colocado nas Olimpíadas, aí o pessoal parou um pouco de xingar. Os caras berravam e até mandavam a gente acertar a marcha – disse.
Depois da quarta posição nas Olimpíadas do Rio, Caio Bonfim declarou que sofria muito durante os treinos. Na época, disse que sempre que saia de casa para marchar, ouvia frases como “Para de rebolar” e ” Vai trabalhar, vagabundo”.
Giscard Camilo de Oliveira, tio de Caio presente em Paris para acompanhar a conquista, também citou o preconceito sofrido pelo sobrinho no começo, mas vê uma mudança de comportamento do público e espera que a medalha de prata nas Olimpíadas marque um novo olhar do país sobre a modalidade.
– Lá nas ruas de Sobradinho, quando ele treinava, o pessoal falava “vai trabalhar!”, isso pra não falar os nomes que ele ouvia né. “Deixa de ser à toa, tá rebolando, isso não é esporte de homem”. Então hoje passam por ele e buzinam. A buzina é diferente né. Não é mais aquela buzina jogando o carro em cima, tentando atrapalhar o treino dele, hoje a buzina é “vai lá, estamos com você!”. Acho que é uma superação porque as pessoas não conheciam a marcha atlética. Achavam que era uma coisa à toa, e a marcha atlética vai muito além das pistas. Falo isso porque vocês veem as crianças se espelhando no Caio. Então hoje a marcha é medalha de prata no Brasil.