Divulgado pelo governo federal como um medicamento eficaz contra a Covid-19, o vermífugo nitazoxanida, conhecido comercialmente como Annita, não será adquirido pelo Ministério da Saúde.
A pasta informou que não há planos para disponibilizar o medicamento na rede pública de saúde.
“A nitazoxanida não consta nas orientações do Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19, e também não se encontra incluída na Rename 2020 (Relação Nacional de Medicamentos), de forma que esse medicamento não é adquirido ou financiado com recursos federais do SUS”, informou o ministério.
O órgão disse ainda que somente quatro medicamentos fazem parte da orientação da pasta para uso contra a Covid-19: azitromicina 500 mg associada à cloroquina 150 mg ou à hidroxicloroquina 400 mg e o oseltamivir.
As informações foram obtidas em resposta a um pedido de informação feito pela deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP).
O Ministério da Ciência e Tecnologia afirmou, em outubro de2020, que resultados de estudos clínicos apontaram que o vermífugo teria ajudado a reduzir a carga viral em pacientes na fase inicial da Covid-19.
Sem os números e um estudo já publicado, o governo se limitou a divulgar o resultado em discursos e por meio de um vídeo, no qual constava a imagem de um gráfico genérico, sem dados, com a frase “Nitazoxanida é eficaz!”.
Na ocasião, representantes da pasta argumentaram que os resultados foram submetidos a uma revista científica internacional e que uma eventual divulgação prévia dos dados limitaria a publicação.
De acordo com o ministério, os dados correspondiam ao resultado de testes em 500 voluntários. Eles foram divididos em dois grupos: um recebeu placebo e outro o medicamento.
Apesar da divulgação, médicos e pesquisadores ouvidos pela reportagem disseram que a conclusão da pesquisa não mudaria o cenário atual e não significaria uma guinada no combate ao novo coronavírus.
O início dos testes com a nitazoxanida foi anunciado pelo ministro Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações) ainda em abril. Na época, o ministro evitou citar o nome do remédio.
O argumento era a necessidade de evitar uma corrida às farmácias -como ocorreu quando o presidente Jair Bolsonaro passou a defender publicamente a hidroxicloroquina como cura para a Covid-19.
O Ministério da Ciência e Tecnologia foi procurado para comentar o caso, mas não havia se manifestado até a publicação deste texto.