Pouco mais de cinco meses atrás, em um 8 de fevereiro, o incêndio no Ninho do Urubu, CT das categorias de base do Flamengo, deixou dez mortos e três feridos – todos jogadores do time, com idade entre 14 e 17 anos.
A tragédia que chocou o Brasil levou a desdobramentos em solo baiano. Semanas após o acidente, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) começou a investigar as condições dos dormitórios das categorias de base de clubes de futebol de Salvador – Bahia, Vitória, Galícia e Ypiranga – em ação coordenada pela 3ª Promotoria de Justiça da Infância e Adolescência da Capital, e conduzida pela promotora Anna Kristina Santos Lehubach Prates.
Segundo informações do MP, “nenhum dos clubes tem seus dormitórios inteiramente regularizados. Todos apresentam falhas (em maior e menor grau) que devem ser corrigidas para garantir a segurança dos atletas de base”.
Para não prejudicar o encaminhamento da investigação, nem o MP-BA especificou quais os problemas que os clubes apresentam, nem a promotora está a realizar entrevistas. A reportagem é do Jornal A Tarde.
Tricolor em adequação
O Bahia afirma aguardar o retorno da avaliação das estruturas, ainda não apresentada pelo MP. “Não sabemos quais são os problemas, mas estamos dispostos a nos adequar”, diz Marcelo Vilhena, gerente técnico das divisões de base do Tricolor.
O dirigente, acompanhado do membro de comissão de segurança do clube, Roberto Cerqueira, apresentou a estrutura dos alojamentos. Um total de 68 jogadores vive no espaço. São 22 quartos capazes de acolher até quatro atletas, tendo, portanto, uma capacidade de 88 jogadores.
“Já havíamos iniciado obras na estrutura dos alojamentos da base, mas, com o que aconteceu no Flamengo, iniciamos algumas adequações para incêndios. São vidas humanas que estão aqui”, salienta Roberto Cerqueira.
As adequações realizadas pelo Bahia são relacionadas à prevenção de incêndios. As principais adições foram a instalação de um sistema de detecção de fumaça, além da melhora no plano de emergência e adequação da estrutura com especificações técnicas, como sinalizações de rotas de fuga em caso de incêndio. Para a regularização da nova estrutura, resta apenas o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).
O AVCB é um documento que confirma vistorias realizadas em relação à conformidade com as regras de segurança e prevenção de incêndios. A Lei Pelé, que estrutura a relação entre clube formador e atleta, pouco age sobre a garantia de segurança dos jogadores nos alojamentos. No formulário de clube formador, por exemplo, não é exigido o AVCB. Em maio, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) deu parecer favorável ao projeto de lei (PL) 1.153/2019, que propõe mudança no texto da Lei Pelé, incluindo tópicos sobre segurança como garantia aos atletas em formação.
O texto já foi recebido pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados, e aguarda análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, seguirá para votação no Plenário.
Desdobramentos
A investigação já está para completar o quinto mês no final de julho. Três dos times citados confirmam a visita do MP, ocorrida há aproximadamente um mês e meio.
Relevantes historicamente, Galícia e Ypiranga estão longe do poder econômico de Bahia e Vitória. Procurados pela reportagem, ambos os clubes afirmam não usar os dormitórios em questão.
“Os dormitórios estão desativados desde o início do ano porque vão passar por uma reforma”, diz Marcelo de Jesus, coordenador técnico da divisão de base do Ypiranga. O alojamento, segundo o coordenador técnico, possui dois quartos, com capacidade total para 20 atletas.
O Ypiranga afirma que vem tentando colaborar com o Ministério Público. O clube informa já ter havido conversas iniciais com a promotora do caso para tratar de possíveis ajustes.
Diferentemente do Mais Querido, o Galícia não pretende usar os alojamentos por não ter condições financeiras de mantê-los. “O clube possuiu instalações, mas não as utiliza, e por isso não estão regularizadas”, aponta Manolo Muiños, presidente do time.
O Azulino conta com uma estrutura de dez apartamentos, capaz de abrigar duas pessoas cada. “As instruções foram passadas principalmente por parte dos bombeiros, algumas recomendações de segurança quanto à parte elétrica”, informa Muiños.