O Ministério Público da Bahia (MP-BA) ofereceu denúncia por crime de estupro de vulnerável quanto ao professor denunciado por uma mulher, que revelou que a filha dela foi vítima do suspeito, quando tinha 10 anos, na Escola Adventista de Paripe, em Salvador, entre os anos de 2016 e 2017.
Em entrevista ao G1, a mulher disse que o professor “Roubou a inocência da minha filha”. De acordo com a escola, o suspeito nega todas as acusações.
O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) requisitou no dia 16 de fevereiro a instauração de um inquérito policial à Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra à Criança e o Adolescente (Dercca).
O MP-BA também informou que apura, na esfera não criminal, a violação de direito à educação, em razão de suposto abuso sexual físico e psíquico, por meio de procedimento instaurado no dia 14 abril, prorrogado no dia 13 de maio, e solicitou mais informações à denunciante e à unidade escolar.
Em nota enviada ao G1, a Escola Adventista de Paripe informou que apura os fatos relativos à denúncia de assédio envolvendo um funcionário. A instituição disse que afastou o professor suspeito após comunicação detalhada da parte da mãe da vítima e, posteriormente, realizou a demissão dele. A escola não informou quando ocorreu a demissão do suspeito.
Ainda segundo a instituição, a Escola Adventista prestou solidariedade à família e se colocou à disposição para oferecer todo o apoio necessário.
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi apurado pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra à Criança e o Adolescente (Dercca), que concluiu o inquérito e remeteu ao MP-BA, no dia 11 de maio. O suspeito foi indiciado por estupro de vulnerável.
O G1 tentou contato com o professor por telefone, mas as ligações não foram atendidas até a última atualização desta reportagem.
Mãe percebeu comportamento diferente
De acordo com a mãe da vítima, a filha começou a apresentar um comportamento diferente em casa e as notas começaram a cair no colégio. A mulher chegou a procurar a direção da escola. No entanto, a direção dizia que era questão de adaptação, porque a menina vinha de um colégio pequeno e que era uma questão de transição.
“A direção dizia que esse comportamento era natural por causa da mudança”, comentou.
Ainda de acordo com a mulher, o comportamento diferente da filha evoluiu durante dois anos e a menina chegou a se mutilar. “Ela não queria mais ter contato com as pessoas”, explicou.
Abusos aconteciam nos corredores
Ao G1, a mãe da vítima relatou que os abusos começaram no início de 2016 e duraram por cerca de dois anos, até o final de 2018, quando a menina mudou de colégio.
A mulher também disse que só teve conhecimento dos abusos que a menina sofria quatro anos após o ocorrido, em dezembro de 2020, quando a filha relatou para ela.
“Eu fiquei sabendo depois de muitas idas e vindas ao médico. Ela apresentou quadros que aparentemente eram físicos, pois passava mal, eu levava para o hospital, emergência, voltava e tudo mais, até que um dia ela passou mal, eu levei ela na emergência e pedi para que a médica a encaminhasse para uma avaliação neurológica”, explicou.
Segundo a mãe, ela achava que a filha poderia ter algum problema neurológico, porém, após avaliação foi constatado que estava tudo normal. Posteriormente, em outra avaliação médica, a mulher descobriu que a menina estava com síndrome do pânico.
Ainda de acordo com a mulher, a menina chegou a desenvolver depressão por causa dos abusos. Atualmente, a menina tem 15 anos e segue em acompanhamento psicológico.
‘Professor tinha comportamento inadequado’
Ainda durante a entrevista, a mulher relatou que o professor apresentava um comportamento inadequado com as alunas. Ela disse que soube da informação através de testemunhas.
“Ele já vinha mostrando durante muito tempo, o comportamento diferente na sala de aula só com relação às meninas e, por conta disso, ele utilizava da persuasão, por ser um professor de uma matéria muito necessária”, relatou.
“Inclusive houve relato de um aluno que foi fazer queixa com relação ao comportamento e ao assédio que esse professor fazia na sala de aula com relação às meninas”, disse a mãe.
O que diz a escola
De acordo com a instituição, essa foi a primeira vez em que a escola soube de um caso relacionado a esse professor. A escola ainda informou que o contato que ainda mantém com o professor é para as tratativas sobre demissão.
Após a denúncia realizada pela mãe da vítima, a Escola Adventista disse que vai reestruturar a central de relacionamento já existente, para melhorar o diálogo com pais e alunos, inclusive com aqueles que já fizeram parte da unidade escolar, e não estão mais na instituição, como é o caso desta denúncia especificamente. A ideia é ampliar possibilidades de escuta e de assistência aos pais em situações semelhantes.
Além disso, como parte do Plano de Ensino, já ocorre o trabalho com temas que combatem toda e qualquer forma de abuso, segundo a instituição. Isso envolve o cuidado na adoção do material didático, que reforça a conscientização aos alunos, como, também, a realização de oficinas, palestras, escolas de pais e formações docentes que abordem esses temas importantes para a formação integral do indivíduo.
Já em relação a relatos de outras testemunhas, sobre a suposta existência de outras alunas vítimas do mesmo professor, a Escola Adventista informou que vê com grande preocupação, e se coloca à disposição, além de incentivar os pais a apresentarem denúncias para ajudar na apuração e no enfrentamento ao problema. (G1)