Um novo ataque com mísseis promovido pela Rússia derrubou mais de 50% do consumo de energia na Ucrânia nesta sexta (16), em uma das maiores ações do gênero desde que Moscou passou a alvejar a infraestrutura de distribuição elétrica do país, em outubro.
Segundo a Ukrenergo, a operadora da rede elétrica, houve blecautes em diversas cidades do país. O ministro da Energia, German Galuschenko, afirmou que nove centrais foram atingidas. Pelo menos duas pessoas foram mortas na ação.
Houve pânico em diversas cidades. Na capital, Kiev, pessoas voltaram a se esconder em estações de metrô —o palco escolhido para a entrevista concedida pelo presidente Volodimir Zelenski ao apresentador americano David Letterman, disponível no streaming do Netflix.
Foram cerca de 60 mísseis disparados, segundo a Força Aérea, que desta vez não divulgou quantos teria derrubado. Na véspera, Kiev havia sido atacada com 13 drones iranianos usados pelos russos, e nesta sexta a capital foi especialmente alvejada.
A ação vem na esteira de alertas feitos por autoridades ucranianas, Zelenski à frente, acerca de um renovado ímpeto russo para uma ofensiva no começo do ano que vem. Em entrevistas a veículos como o jornal britânico The Guardian e à revista londrina The Economist, elas disseram que a ideia de Moscou é ganhar tempo com a disrupção, enquanto prepara seus 320 mil reservistas mobilizados.
Mas não só isso. O comandante das Forças Armada, general Valeri Zalujni, admitiu que os ataques podem ter impacto sério na moral de suas tropas, que verão “suas mulheres e filhos congelar”. O inverno, que começo oficialmente na semana que vem, já está a pleno vapor no país: Kiev e Kharkiv, a segunda maior cidade, marcavam 1 grau positivo quando os mísseis caíram.
Sem energia, não falta apenas luz. Bombas de estações de distribuição de água param e os sistemas de aquecimento, também. A ideia de subjugar o país por congelamento tem sido denunciada como crime de guerra em fóruns como a ONU.
Com tudo isso, tem aumentado o apelo ucraniano por mais defesa aérea capaz de interceptar os mísseis. Desde o começo da guerra, o Ocidente tem sido relutante no item, temendo que ele seja usado contra aeronaves no espaço aéreo russo, aumentando o risco de um confronto entre Moscou e a Otan (aliança militar ocidental).
Nesta semana, contudo, os EUA fizeram vazar a informação de que estão finalizando planos de envio de baterias Patriot. Elas, contudo, são escassas e caras de operar, além de demandar uma especialização que levaria um bom tempo para ser ensinada a ucranianos —a hipótese de ter americanos em solo, provavelmente alvejados por russos, é vista como proibitiva pelos riscos de escalada.
Enquanto o drama energético se desenrola, alguns dos mais violentos combates em meses seguem sendo registrados em Donetsk, uma das regiões do Donbass (leste do país) anexadas por Vladimir Putin em setembro, mas onde os russos têm controle de apenas metade do território. (BN)