Em entrevista ao canal da Rádio Brasil no Youtube, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal, embora sem citá-lo diretamente, e só faltou pedir para ser preso.
Bolsonarista de raiz, financiador do comício realizado pelo ex-presidente no dia 25 de fevereiro último, na Avenida Paulista, o que Malafaia disse de mais explosivo resume-se a um minuto:
“Eu não tenho medo de ser preso, nenhum. Eu estou preparado psicologicamente, emocionalmente, fisicamente, e ainda vou dizer mais uma pra vocês: tem um vídeo meu gravado nas mãos de algumas pessoas; se me prenderem, amigo, hahaha, a coisa vai ficar bonita ao contrário”.
Ao contrário de quem? Ele não disse de quem, só insinuou:
“Sabe? Até isso eu estou preparado. Sabe? E até Bolsonaro, tá, estou dando aqui pra você… Até Bolsonaro tem vídeos gravados, tá? Se for preso, vai ser solto. E aí os caras vão ver o problema que vão arrumar. Só isso, mais nada. Então eu não tenho medo”.
Os entrevistadores não perguntaram sobre o conteúdo dos vídeos, nem os de Malafaia, nem os de Bolsonaro. E assim, o pastor pôde acrescentar:
“Olha, se eu tivesse medo, eu não falaria o que falei na [Avenida] Paulista, nem chamaria Alexandre de Moraes de ditador da toga”.
O “ditador da toga”, presidente do inquérito que apura atos hostis à democracia, negou, ontem, o pedido que lhe fez Bolsonaro para que devolvesse seu passaporte apreendido pela Polícia Federal. Bolsonaro queria viajar a Israel, segundo ele, a convite do governo de lá.
A Procuradoria-Geral da República opinou contra a devolução. Moraes escreveu em seu despacho: “As diligências estão em curso, razão pela qual é absolutamente prematuro remover a restrição imposta ao investigado”.
A história contada por Malafaia sobre vídeos-bomba em mãos de terceiro é tão velha quanto a Catedral da Sé, em Olinda. Muita gente em apuros já se valeu dela para safar-se, mas não conseguiu. Foi o caso, por exemplo, do publicitário mineiro Marcos Valério.
A certa altura do escândalo do mensalão do PT em 2005 (a compra de votos de deputados para aprovar projetos do governo Lula 1), ele espalhou que gravara um vídeo contando tudo o que sabia, e que entregara quatro cópias a pessoas de sua confiança.
Se fosse preso, o vídeo viria à tona. Valério foi preso em 2012, condenado a 40 anos e 4 meses, e a pagar uma multa de 3 milhões de reais. Cumpriu pena em regime fechado até setembro de 2019, quando passou para o regime semiaberto.