Tão conhecido no som da Banda Mel, o clássico de Carnaval “Baianidade Nagô” ganhou repercussão ao ser cantado por uma outra voz na última terça-feira (14). Em uma missa na Igreja Rosário dos Pretos, no Pelourinho, o padre Lázaro Muniz foi filmado puxando um coro de fiéis e balançando todo o recinto “ao negro toque do agogô”.
Mas apesar da peculiaridade do vídeo ter pego muitos de surpresa, é o próprio padre quem conta ao CORREIO que a inclusão de ritmos diversos já é rotineira em suas missas, realizadas sempre às terças.
“Sou padre há 25 anos e tenho uma trajetória na linha do diálogo interreligioso e do combate ao racismo. Então costumamos trazer para as celebrações elementos que ajudam a refletir a partir de uma linguagem em que o povo está inserido. Na proximidade do Carnaval, trouxemos algumas canções do Carnaval”, conta, acrescentando que também costuma levar MPB e poesia como elementos para as missas.
Na missa da última terça, antes da quaresma e no contexto de pré-Carnaval, ele utilizou o trecho do evangelho em que Jesus chama atenção para o “fermento dos fariseus”, referenciado na Bíblia no livro de Mateus, que diz respeito à hipocrisia e ao pecado. “Pensamos em como transformar o Carnaval em um lugar de cuidado, respeito, para evitar violência e intriga. E fazer do Carnaval uma grande festa, como diz a canção. Festejar a vida, o amor e a paz”, comenta.
O vídeo tem recebido elogios nas redes, além de comentários bem-humorados. O fiel Tiago Carvalho conta que conhece o religioso desde a época em que ele era pároco na Igreja são José de Amaralina, e as pregações, de fato, sempre foram conduzidas de forma a fazerem correlação entre acontecimentos atuais e o evangelho.
“Quem o conhece sabe como ele conduz. Ele é amado entre os fiéis, e principalmente, pelos jovens. Sobre a música, é um hino do carnaval da Bahia, que fala da alegria das pessoas que sabem brincar com respeito e na paz. Não vejo nenhum problema”, diz Tiago.
Apesar de saber que a maioria dos fiéis se agradam com suas missas, o cônego diz estar ciente que alguns podem não gostar do tipo de abordagem.
“Certamente não tive intenção de ferir a fé cristã, no qual creio firmemente. Mas isso serve como termômetro, ver que as pessoas conhecem mais músicas populares do que religiosas, e esses elementos nos ajudam no processo de evangelização. É uma mensagem de respeito, que é valiosa”, defende.
Padre Lázaro também se mostra aberto às críticas. “Pode ser que alguns se queixem e façam críticas. É possível acontecer e a gente vai compreender, então tudo na graça de Deus e vamos continuar evangelizando enquanto Jesus nos permitir”. (Correio)