Acusada de envolvimento na morte de Leandro Troesch, Maqueila Santos Bastos voltou a negar qualquer participação no crime. Ela está respondendo ao caso em liberdade por decisão da Justiça. “No dia do ato, eu não estava lá, eu estava em Salvador, tive em vários locais, inclusive em médico. Eu não tinha nada ligado à situação ligada lá na Paraíso Perdido”, garantiu Maqueila em entrevista à TV Bahia.
Leandro Troesch foi encontrado sem vida dentro de um dos quartos de sua pousada de luxo Paraíso Perdido, em Jaguaripe , com marca de tiro na cabeça, em 25 de fevereiro deste ano. Leandro havia chegado a ser preso em 2021 por envolvimento em um sequestro vinte anos antes, no bairro do Costa Azul, em Salvador.
Maqueila confirmou que vivia um relacionamento amoroso com Shirley da Silva Figueredo, viúva de Leandro, mas diz que os dois tinham uma relação aberta e que ele não se incomodava. “Nós tínhamos uma relação amorosa, isso não é a esconder, nos conhecemos no presídio, tenho consideração muito grande pela Shirley, sempre tive convicção que a Shirley não tinha cometido (crime). A relação de Leandro e Shirley era aberta. Eu não tinha muito contato com ele, mas tenho indícios que ele sabia sim da relação da gente, mas em momento nenhum chegou a comentar comigo”, explicou.
(Foto: Reprodução) |
O pouco contato que teve com Leandro sempre foi positivo, garantiu. “Eu tive pouca relação com Leandro, porque ele estava preso. Eu tinha pouca relação com ele, tive na semana que ele saiu, mas graças a Deus uma boa relação. Nunca tive nada a falar, nunca tive nada contra, nem ele teve nada contra mim”, diz.
Ela falou também da decisão judicial que permitiu responder em liberdade ao processo. “A liberação para mim foi uma felicidade muito grande. Sem explicação, passei por um momento muito difícil desde a prisão lá em Aracaju, até aqui. Foi muito torturante”, afirmou.
Maqueila falou também de Marcel da Silva Vieira, conhecido como Billy, que trabalhava com Leandro na Paraíso Perdido e foi morto no dia de seu depoimento. “Tinha uma boa relação com Billy, a gente trabalhava juntos. Ele trabalhava no Aconchego das Águas, eu trabalhava na Aconchego e na Paraíso Perdido. Para mim foi uma surpresa grande, e tristeza também, porque era um cara fundamental lá no Aconchego”, lamentou.
A acusada negou ainda ter fugido depois dos crimes. “Não fiquei desaparecida após a morte de Leandro, nem a de Billy. Fui para Aracaju porque soube pelo sobrinho do Leandro que Shirley estava em Aracaju. Então como amiga, como uma pessoa que eu tinha consideração, uma relação amorosa, fui tentar revê-la. Desde antes de acontecer a situação já tinha uma semana que não estava na pousada. Não pude ir no sepultamento. Então quando me deu a informação que ela estava em Aracaju, fui pra lá. Esclarecer que eu não estava com a temporária batida, então eu não estava foragida. A temporária foi batida quando eu estava em Aracaju já”, diz.
Ela finalizou pedindo por justiça, afirmando que tanto ela quanto Shirley foram vítimas de injustiça nessa investigação.
Entenda o caso
A pousada começou a alimentar os noticiários policiais com as prisões de seus donos, Leandro Silva Troesch e Shirley da Silva Figueredo, em fevereiro de 2021, após serem condenados por roubo e extorsão mediante sequestro contra uma mulher em Salvador. Um ano depois, Leandro foi encontrado morto dentro de um dos quartos – ele e Shirley estavam respondendo pelos crimes em liberdade.
Desde então, mais fatos foram surgindo, assim como novos envolvidos. Após o sumiço de Shirley, a polícia chegou até o nome de uma amiga dela, Maqueila Bastos. Elas se conheceram no presídio feminino. Os investigadores descobriram ainda que Maqueila havia sido demitida da pousada dez dias antes da morte de Leandro, que não aprovava a amizade entre a esposa e ex-presidiária.
Sem Shirley e Maqueila, a polícia contava com o depoimento de Marcel Silva, o Billy, amigo de infância de Leandro que o reencontrou no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. Marcel era uma pessoa de confiança de Leandro e por isso era considerado “peça-chave” no inquérito que apura a morte do patrão, mas foi assassinado um dia antes de prestar depoimento.
Diante das novas informações, a polícia considerou importante o interrogatório de Shirley e Maqueila e por isso as prisões delas foram decretadas pela Justiça. Somente Maqueila foi localizada. Ela estava em Aracaju e foi trazida para Salvador, onde ficou custodiada na Delegacia Especial de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derrca). Atualmente, Maqueila se encontra no Presídio Feminino.
A Paraíso Perdido, situada na Praia dos Garcez, continua funcionando.
Shirley e Leandro |
Cronologia de fatos relacionados à Pousada Paraíso Perdido
19.02.2021 – Leandro e Shirley são presos dentro da luxuosa Pousada Paraíso Perdido. Polícia cumpre mandados de prisão: casal foi sentenciado pelos crimes de roubo extorsão mediante sequestro contra uma mulher em Salvador.
Outubro de 2021 – Shirley deixa o Presídio Feminino para responder o crime em liberdade, juntamente com Maqueila, com quem fez amizade na cela. Shirley resolve abrigar Maqueila na pousada.
Dezembro de 2021 – É a vez de Leandro deixar o Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. Ele passa responder o crime em liberdade para fazer um procedimento médico. Voltar a assumir a direção da pousada e não gosta da aproximação de Shirley com Maqueila.
26.02.2022 – Leandro é encontrado morto com um tiro na cabeça em um dos quartos da pousada. Polícia diz que a morte é investigada e que não descarta as possibilidades de suicídio e homicídio. Horas depois, Shirley não foi localizada na cidade para prestar um segundo depoimento e a justiça decreta a prisão dela, a pedido do delegado Rafael Magalhães, por descumprir decisão judicial que a obrigava permanecer na pousada. Maqueila também não é localizada.
06.03.2022 – Marcel é assassinado um dia antes de prestar depoimento sobre a morte de Leandro. Ele era considerado uma pessoa de confiança do empresário e por isso a polícia diz que ele era uma peça-chave para elucidação da morte do patrão.
Marcel, o Billy, foi morto no dia que daria depoimento |
08.03.2022 – Polícia diz que Leandro discutiu com Shirley momentos antes de sua morte. Funcionários relataram a briga do casal no mesmo quarto onde o corpo foi encontrado. Os detalhes da discussão não foram rebelados pelo delegado Rafael Magalhães, responsável pela investigação.
10.03.2022 – Delegado Rafael Magalhães diz que já tem a localização de Shirley e Maqueila. A Polícia Interestadual (Polinter) aciona unidades policiais de outros estados. Nesse mesmo dia, a polícia baiana informa que Shirley havia determinado que três funcionários pegassem dinheiro e joias de um cofre da pousada.
11.03.2022 – Marcel é enterrado em Salvador. A polícia já tinha identificado quatro dos cinco envolvidos diretamente no crime, entre eles um adolescente e uma mulher, que teria atraído a vítima para uma emboscada. Marcel respondia em liberdade por diversos assaltos e a sua morte estaria ligada ao tráfico de drogas, segundo as investigações.
14.03.2022 – Justiça decreta prisão temporária de Shirley e Maqueila. Polícia pediu para que ambas pudessem ser ouvidas no inquérito que apura a morte de Leandro.
24 03.2022 – Maqueila é presa em Aracaju. Ele estava em um carro de luxo que não tinha devolvido à uma locadora. Delegado Rafael Magalhães diz que Maqueila estava na casa de uma amiga que mora em Jaguaripe.
Foto: Reprodução/TV Bahia |
01.04.2022 – Polícia indicia cinco pessoas pela morte de Marcel. São eles: um adolescente, uma mulher e três homens. Polícia diz que deve encerrar o inquérito ainda neste mês. Destes, apenas um está foragido.
05.04.2022 – Maqueila é transferida de Aracaju para Salvador. Ela fica custodiada na Delegacia Especial de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), porque em Salvador não há nas delegacias celas exclusivas para mulheres.
06.04.2022 – Começou na circular grupos de aplicativo de mensagens um trecho de um áudio de uma suposta conversa entre Leandro e Maqueila. Na gravação, um homem, que seria Leandro, diz que está numa “situação bem vulnerável” após descobrir um problema nas contas da pousada, e relata que está sendo medicado por transtornos emocionais.
07.04.2022 – Maqueila relata em seu depoimento nomes, lugares e circunstâncias que, segundo delegado Rafael Magalhães, ajudaram na investigação da morte de Leandro. Ainda durante o interrogatório, o delegado descobre que foi retirado do caso e se mostra insatisfeito – a transferência dele para outra cidade foi publicada no Diário Oficial junto com a nomeação do novo titular de Jaguaripe. Mas no final da noite, a Polícia Civil voltou atrás e manteve Magalhães na investigação.
08.04.2022 – Em uma foto publicada em perfil do Instagram, Maqueila exibe no braço direito uma aliança dourada contendo a letra “S” e o nome de Shirley tatuado ao lado do desenho de um coração . O advogado João Neto dia que “existe uma relação de amizade muito próxima”. “Isso é normal, um homenagem entre pessoas que são muito amigas”, disse.
Maqueila tem nome de Shirley tatuado no braço |
13.04.2022 – Tribunal de Justiça da Bahia informa que Maquila já está no Presídio Feminino e passará por audiência de custódia nesta terça-feira (13).
19.04.2022 – Laudo pericial descarta suicídio e Shirley é indiciada por homicídio. Ela segue foragida. Maqueila foi indicada como partícipe.
22.04.2022 – Maqueila deixa prisão após decisão para que possa responder em liberdade
27.04.2022 – Após um novo laudo não descartar possibilidade de suicídio, Ministério Público pede que seja feita uma reconstituição do caso.
Correio 24h