Quem nunca circulou de farmácia em farmácia para achar o melhor preço na hora de comprar um medicamento? Seja para uma dor simples ou doença crônica, economizar é a palavra de ordem na compra de remédios. Uma missão que fica ainda mais fácil pelo computador ou celular. É que, no varejo farmacêutico, as compras on-line, de acordo com pesquisa da reportagem nas farmácias de Salvador, saem até 56% mais baratas.
A pesquisa mais recente que aponta os remédios mais vendidos sob prescrição no Brasil é da Close-up Internacional e foi realizada em 2021 (veja a lista completa no final do texto). E todos foram encontrados por um preço médio menor nos sites e aplicativos das drogarias em relação ao que há no balcão físico.
O Xarelto, por exemplo, medicamento que trata embolia pulmonar e foi o mais vendido em território brasileiro, na apresentação de 20mg com 14 comprimidos, sai por uma média de R$ 153,08 no balcão. No on-line, tem farmácia que comercializa até por R$ 86,25, valor 56% menor.
No caso do Ozempic, remédio que é o segundo da lista e utiliza-se em tratamento de diabetes do tipo 2, a economia se mantém. Nas lojas físicas, o preço médio na apresentação de 0,25mg com um sistema de aplicação e seis agulhas é de R$ 851,99, enquanto no site é possível achar por R$ 779,75.
Diferenças que fazem consumidores mudarem sua forma de compra. A empreendedora Maíra Britto, 30 anos, que já costumava comprar roupas e sapatos na Internet, descobriu a economia que on-line proporciona também em medicamentos e está desistindo das lojas físicas.
Sem a tireoide, que retirou por conta de um nódulo há quase dois anos, ela precisa fazer uso diário do remédio Puran T4. Por isso, viu a diferença no bolso ao comparar valores dos dois modelos de venda. ”Quando comecei a tomar era R$ 11/12 na loja física na promoção de compre 3, leve 4. Da última vez que fui comprar tava de R$ 21/22. Na promoção, viu?! É um remédio que eu tomo todo dia, não tem bolso que aguente. Recorri a internet e comprei por R$ 8, peguei o genérico mesmo”, conta ela, que mora no Costa Azul e não encontrou preços mais baratos nas farmácias da região.
É por esses valores que a copeira Adailza Santos, 37, deixou de lado as idas às drogarias. O que começou na pandemia como uma alternativa ao presencial em tempos de isolamento, agora, é regra para ela, que costuma comprar analgésicos de forma rotineira.
“No início da pandemia, eu comecei a comprar assim e percebi que seria mais barato. Não uso aplicativo, vou pelos sites. […] Além de ser sempre uns 40% mais barato, tem outras vantagens como desconto na primeira compra e cupons que você vai recebendo”, conta Adailza, afirmando que não pensa em voltar a fazer as compras presencialmente.
A estudante Renata Nascimento, 22, é outra que não larga o digital na hora de adquirir medicamentos. Ela começou a comprar on-line por falta de tempo para ir às farmácias, mas, assim como as outras, percebeu que era mais viável para o bolso.
“No serviço on-line, você tem mais variedade de produtos e tem como comparar preço em mais farmácias porque agora praticamente todas têm aplicativos. Além disso, fazem entrega em casa por valores muito pequenos de R$ 1,50 ou R$ 2,50, por exemplo. E, claro, no app eu consigo remédios 20% a menos por conta dos cupons e descontos”, afirma Renata.
Por que é mais barato?
A farmacêutica Cinara Silva, 45, partilha da experiência das outras entrevistadas. Ela não titubeia ao dizer que, como cliente, é mais vantajoso comprar on-line.
“A depender do valor da compra, tem o cupom que eles disponibilizam e sai por um preço ainda menor. Eu acredito que é por uma questão de operação, que é mais barata. Compro medicamentos para diabetes e os valores são menores. Até para outros medicamentos é assim. Precisei comprar recentemente um para garganta que, na farmácia estava R$ 100 e, no app, R$ 80”, relata
Educador financeiro, Raphael Carneiro explica que os valores mais amistosos parte de uma estratégia de venda desenvolvida nas farmácias que deixa os preços ainda mais baratos on-line.
“As redes têm capacidade de oferecer promoções porque você cria um perfil ali e entra naquela questão do programa de fidelidade. Quanto mais você compra de uma rede, mais ela te conhece e oferece descontos nos produtos que você precisa para te manter conectado a ela. É um sistema de retroalimentação”, fala Carneiro.
Além de garantir os preços mais baratos, a venda on-line facilita o acesso a remédios e faz bem também para quem vende. É isso o que diz Maria Fernanda Barros, farmacêutica responsável pelo centro de informação de medicamentos do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA).
“A venda on-line amplia o acesso a medicamentos para quem não pode ir presencialmente em uma farmácia e, pensando para além do consumidor, aumenta o faturamento do estabelecimento de saúde. No caso das desvantagens, pode levar a aquisição e o uso de medicamentos falsos em sites irregulares”, pontua.
Reajuste em 1° de abril
A internet deve ser ainda mais importante para os clientes porque, desde 01 de abril, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) fez o reajuste anual nos preços dos remédios. De acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), a porcentagem de aumento desse ano ficou em 5,6%. O documento que confirmou a estimativa foi publicado na sexta-feira (31), no Diário Oficial da União (DOU), após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O cálculo é feito a partir de um modelo de teto de preços com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulado em 12 meses, o aumento dos custos de produção e a necessidade de repor perdas que vêm da inflação.
Isso porque, na série histórica, os medicamentos estão abaixo da inflação. De 2012 a 2022, de acordo com o Sindusfarma, o IPCA somou 90,24% diante de uma variação de 76,79% no valor dos medicamentos.
Apesar disso, nas farmácias de Salvador, não se vê corrida de clientes para antecipar compras e estocar remédios. “Cinco anos atrás até acontecia, mas agora é difícil. O pessoal não tem condição financeira para conseguir fazer essa compra de estoque. O que o povo está fazendo é pesquisa, porque comprar antes do aumento não dá”, conta a farmacêutica Mirian Coutinho.
“Não quer levar mais? Dia 1° vai ter reajuste”, adverte a atendente. “Quem me dera”, responde Clarindo Ferreira, 58. Hipertenso, ele faz uso do medicamento Losartana de forma contínua. Ciente do aumento, não estoca o medicamento antes do aumento por não ter dinheiro. “O que tenho dá para esse mês e olhe lá. Não tem como comprar para três, quatro ou seis meses”, lamenta.
Entre os farmacêuticos, atendentes e gerentes das drogarias da capital, a constatação é unânime: falta dinheiro no bolso do consumidor. “Quando compra, faz o estoque de três meses. Nesse ano, porém, a procura foi bem menor. A gente acredita que seja o fato do cliente não ter a possibilidade financeira de acumular esses medicamentos”, aponta Edileuza Silva, que é atendente.
Cuidados importantes
Na hora de ir a internet para garantir os melhores preços depois do aumento, é importante ter atenção. Para não cair em golpe ou comprar medicamento falsificado, o consumidor tem que estar ligado em alguns aspectos na rede onde vai comprar. Maria Fernanda explica quais:
“O site precisa ter um domínio ‘com.br’, endereço específico para comercialização on-line no país. Além disso, é preciso ter razão social, CNPJ, licença sanitária, autorização da Anvisa, o endereço da farmácia, horário de funcionamento e telefone. O nome do farmacêutico responsável e o registro dele junto ao conselho regional também é essencial”, afirma.
Checar todas essas informações podem ser um processo demorado para o consumidor que quer fazer a compra, mas é essencial por ser um produto que vai interferir diretamente na saúde de quem usá-lo.
“Por se tratar de medicamentos que requerem um cuidado especial tanto na utilização pelo consumidor final quanto nas etapas de armazenamento e distribuição, as regras devem ser rígidas na hora que esses medicamentos forem vendidos por internet, no que a gente chama de meio remoto”, completa a farmacêutica Maria Fernanda.
Outro cuidado citado, agora por Raphael Carneiro, é evitar que esse tipo de compra se torne compulsório e os clientes passem a adquirir remédios e se automedicar só porque o valor está bom.
“Vale a pena ter esses aplicativos para ter vantagens relevantes e é preciso ter cuidado para não se automedicar só porque está barato. Compre remédios a partir da orientação médica e aproveite os descontos somente para isso”, aconselha Carneiro.
Veja a lista com valores dos 10 medicamentos mais vendidos sob prescrição em farmácia, segundo a Close-up International:
Xarelto (Bayer) 20mg 14 comprimidos
Preço médio na farmácia: R$ 153,085
Preço do site: R$ 86,25
Ozempic (Novo Nordisk) 0,25 mg
Preço médio da farmácia: R$ 851,89
Preço no site: R$ 779,75
Saxenda (Novo Nordisk) 6 mg
Preço médio na farmácia: R$ 717,55
Preço do site: R$ 615,98
Glifage XR (Merck S.A) 500mg
Preço médio na farmácia: R$ 7,89
Preço do site: R$ 7,49
Ivermectina VMC (Merck) 4 comprimidos
Preço médio na farmácia: R$ 21,19
Preço do site: R$ 15,99
Jardiance (Boehringer Ingelheim) 25mg
Preço médio na farmácia: R$ 268,72
Preço do site: R$ 202,94
Xigduo XR (AstraZeneca) 10/1000mg
Preço médio na farmácia: R$ 221,69
Preço do site: R$ 171,98
Addera D3 (Mantecorp Farmasa) 1.000ui
Preço médio na farmácia: R$ 43,1
Preço do site: R$ 41,59
Puran T4 (Sanofi-Aventis) 25mg
Preço médio na farmácia: R$ R$ 13,26
Preço do site: R$ 12,22
Dexilant (Takeda) 60mg
Preço médio na farmácia: R$ 95,72
Preço do site: R$ 93,99
(Correio)