A Polícia Civil de Pernambuco indiciou José Bezerra da Silva, o ‘Dé’, de 44 anos, pelo estupro da sogra de 101 anos. O inquérito que atribui a ele o crime de estupro de vulnerável foi remetido ao Ministério Público do Estado, na cidade de Pombos. O indiciamento formal ocorreu na quinta (14). A Promotoria vai analisar o caso e decidir se apresenta uma denúncia contra ‘Dé’. O caso foi investigado pela 10.ª Delegacia da Mulher, em Vitória de Santo Antão, município vizinho a Pombos.
‘Dé’ foi preso em flagrante no dia 7. Ele mantinha relacionamento há 21 anos com a filha da idosa.
Desconfiada de José Bezerra da Silva, a família instalou câmeras escondidas na casa onde moravam. Os equipamentos flagraram o estupro.
Em depoimento ao Estado, a estudante Maria Talita Bernardo Silva Araújo, de 21 anos,relatou momentos de angústia até a prisão em flagrante de José Bezerra da Silva, seu padrasto.
“A gente esperou um dia que ele saiu para colocar as câmeras para que quando ele chegasse, ele não notasse a diferença. Eram microcâmeras. A gente conseguiu instalar no domingo de carnaval” contou.
Leia a íntegra do depoimento de Maria Talita
“No final do ano passado, a minha mãe desconfiou do meu padrasto. Até então a gente não tinha nenhum tipo de desconfiança, porque ele sempre foi uma pessoa que mostrava uma boa conduta, uma boa índole. A gente nunca imaginava que uma pessoa de tanto tempo de convívio ia fazer uma coisa desse tipo.
Minha vó tem 101 anos. A gente não costumava e não costuma deixá-la sozinha até hoje. Minha irmã estuda em tempo integral, e eu trabalho o dia todo. Fica a minha mãe, meu padrasto e ela.
Um certo dia, no ano passado, minha mãe veio a uma agência bancária em Vitória de Santo Antão. Eu vim com a minha mãe, ficou minha vó e meu padrasto em casa. Quando minha mãe voltou, ela notou diferença, porque minha vó estava de banho tomado e a calcinha dela estava lavada.
Minha vó não toma banho sozinha, alguém tem de ir com ela, porque ela pode cair e se machucar. Às vezes ela não consegue nem ficar em pé sozinha. Essa foi a primeira desconfiança.
No dia 4 de janeiro, minha mãe fez uma viagem para a casa de uma amiga de mais de 20 anos que estava se mudando. Era a despedida dela. A cidade fica a mais de 200 quilômetros, é distante. Minha mãe teria que dormir na casa dela para voltar no outro dia. Nesse dia que minha mãe saiu, só ficou minha irmã, meu padrasto, que é pai dela, e minha avó.
Nesse dia, minha irmã flagrou o pai dela no quarto de minha avó às 3h da manhã só de cueca, ela sem calcinha e triste. Ele se escondeu atrás da porta. Minha irmã tentava fechar e ele puxava para que permanecesse aberta para que não visse que ele estava atrás da porta.
Nesse dia, a minha mãe teve uma desconfiança maior e conversou com a família, eu, meu esposo e minha irmã, e decidiu colocar a câmera de segurança. Colocou no quarto e na casa toda. Minha mãe pediu as câmeras no dia 1.º de janeiro. Como foi pela internet, demorou um pouco para chegar. Chegou no final de fevereiro, só que ele permanecia muito em casa e não tinha como instalar sem que ele visse.
A gente esperou um dia que ele saiu para colocar as câmeras para que quando ele chegasse, ele não notasse a diferença. Eram microcâmeras. A gente conseguiu instalar no domingo de carnaval. Até então, minha vó não ficava sozinha com ele de jeito algum, porque a desconfiança estava grande.
Na terça-feira de carnaval, à noite, minha mãe saiu. A gente recebia as imagens ao vivo no celular: no meu, no da minha mãe e no da minha irmã. Quando foi 21h30, aconteceu o primeiro ato. Ele entrou no quarto e a gente viu que ele estava estuprando ela.
Só que nessa filmagem não mostrava o rosto da minha avó, porque a minha avó estava dormindo. Não dava para ver o rosto dela, mas dava para ver pelos atos que era um estupro. A gente conversou com estudantes de Direito, que disseram que seria uma prova mais convicta, um flagrante se mostrasse o rosto dela e o rosto dele.
Na quarta (6 de março), a gente passou o dia todo angustiada. Foi um dia horrível. Na quinta (7), a gente já pensou em levar essas fotos mesmo sem estarem boas para a delegacia. Ele ia trabalhar meio-dia. Minha mãe estava em casa. Ele almoçou, normalmente.
Os dois iam sair no mesmo horário. Ele estava fechando o portão para sair em seguida da minha mãe. Ele resolveu voltar e minha mãe saiu para ir a Vitória (de Santo Antão). Oito minutos após minha mãe sair, ele foi estuprar minha avó. A gente viu pelo telefone, já tínhamos mudado as câmeras de lugar. Ficamos desesperadas, começamos a chorar.
A gente tremia, minha mãe quase desmaiou. Quando a gente chegou em Vitória, eu pesquisei a Delegacia da Mulher mais próxima. A gente ia ser mais bem atendida lá. Pegamos um táxi e fomos para a delegacia. Foi feito o flagrante.
Prenderam no local de trabalho. Era para ele começar meio-dia, ele chegou 15 ou 20 minutos atrasado. A irmã dele disse que minha mãe acabou com a vida dele e bateu nela na delegacia. Foi presa também em flagrante pela Lei Maria da Penha e solta depois de pagar fiança.
Ela pediu para que a minha mãe falasse que a minha avó permitia, pediu para levar minha avó para a delegacia para que ela falasse isso. Na sexta, a defesa dele usou essa história, disse que um era apaixonado pelo outro, que não foi um estupro, que ela pediu.
Ela tem 101 anos, é impossível que alguém acredite nessa história. Isso me doeu, eu imaginava que ele ia pedir desculpas, perdão por ter feito uma barbaridade dessa. Ele continua preso. No dia em que ele foi preso, a gente ligou para a nossa advogada que disse que a gente deveria ter feito isso antes, na primeira vez que a gente viu, mas que a nossa atitude foi boa, porque muita gente esconde.
Minha avó demonstra tristeza, chora. Ela não é consciente, fala que tem 15 anos, brinca de boneca. A gente nem tem animais, ela vê animais. Ela fala, pede água, quando está com sede, mas ela não consegue manter uma conversa.
A gente notou que desde que ele não se encontra mais em casa, ela está demonstrando mais alegria. Ela quer ficar mais com a gente na sala, antes ela não ficava. Quando ela ia dormir, ela vestia duas, três roupas, com medo. Ontem, ela foi dormir só com uma roupa. A gente tenta ser forte, não demonstrar tristeza, fica tentando fazer ela rir para que ela esqueça o que aconteceu e a gente siga em frente.” (Copyright © 2018 Estadão. Todos os direitos reservados e Via R7)