Por que a propagação de imagens e vídeos de ataques em escolas podem ajudar a incentivar esses crimes

Dessa forma, cresce a chance de que ataques possam acontecer novamente, até mesmo com métodos repetidos.

Creche em Blumenau (SC) onde homem matou 4 crianças

Como frequentemente acontece em casos como desta quarta-feira (5) em Blumenau (SC), a divulgação de fotos, vídeos e a propagação da identidade do autor pode ajudar a encorajar novos ataques. A creche Cantinho do Bom Pastor foi alvo de atentado, nesta manhã, no qual um homem, de 28 anos, invadiu a unidade e matou quatro crianças e deixou outras cinco feridas com uma machadinha (clique e veja).

Efeitos negativos

Durante o webinário promovido pela Jeduca, associação de jornalistas que cobrem educação, a pesquisadora Catarina de Almeida Santos da Universidade de Brasília (UNB) demonstrou pesquisas de como a mídia pode influenciar negativamente na cobertura de eventos trágicos como os ataques em instituições de ensino. Dessa forma, cresce a chance de que ataques possam acontecer novamente, até mesmo com métodos repetidos.

Diferentemente do que é pensando, a propagação da história, fotos e características dos autores tem por definição identificar o responsável pelos ataques, mas o efeito é exatamente o contrário. A exposição traz notoriedade ou “santificação” do agressor entre seus semelhantes, o que pode encorajar seus pares a cometerem algo parecido. É preciso entender que o autor do ataque não pode ser o protagonista na divulgação do episódio.

Cobertura do ambiente escolar

Palco dos ataques, as escolas costumam ser um ambiente no qual determinada comunidade convive. Dessa forma, potencializar possíveis danos no local, causados pelo autor dos ataques, pode prejudicar ainda mais o já danificado ambiente público de interação.

O primordial neste aspecto é rastrear a motivação que levou ao infeliz episódio. Fotagrafar o local, entrevistar pessoas e gravar imagens deve ser feito com a devida autorização da gestão da unidade, além de priorizar o método não invasivo de contato com os envolvidos. Dar voz aos professores, alunos e outros agentes escolares presentes no cotidiano das escolas potencializa a prevenção de novos ataques.

Outro ponto delicado é a questão do agressor menor de idade. Mesmo que sua figura seja colocada como o causador de determinado ataque, a criança ou adolescente está protegido pelos artigos 17 e 241 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Exemplo na Nova Zelândia

Em março de 2019, um australiano, defensor da política anti-imigração e nacionalista branca, invadiu duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, e matou 50 pessoas. O autor do ataque ainda transmitiu ao vivo pela internet o episódio. Por isso, a primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, evitou na época dar visibilidade para o homem, de 28 anos.

“Ele buscou muitas coisas em seu ato de terror, mas uma delas foi a notoriedade”, disse Ardern. “E é por isso que você nunca vai me ouvir mencionar o nome dele.”, disse a primeira-ministra.

Ela acrescentou: “Ele é um terrorista; ele é um criminoso; ele é um extremista. Mas ele será, quando eu falar, um anônimo.” (Isto É)

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