Por que, às vezes, parece que sonhamos antes de pegar no sono?

Esses pré-sonhos são chamados “alucinações hipnagógicas”. Entenda por que eles acontecem.

Foto: Thinkstock

Esses pré-sonhos recebem o nome de alucinações hipnagógicas. Quando ocorrem instantes antes de o indivíduo acordar, são chamadas de alucinações hipnopômpicas.

Há um debate na comunidade científica sobre se esses pensamentos podem ser chamados de sonhos. O mais  comum é chamá-los de “atividades oníricas” – já que, na definição formal da coisa, sonhos só ocorrem na fase REM, o último estágio do ciclo do sono, enquanto essas alucinações aparecem nas fases N1 ou N2. Esse é o primeiro estágio de ondas cerebrais lentas, em que o órgão está se preparando para dormir.

“Quando o cérebro está acordado, há uma atividade cerebral intensa, com várias regiões diferentes se comunicando. É como se houvesse muito burburinho”, diz Natália Mota, pesquisadora da UFRJ. “Quando ele começa a dormir, as ondas se somam e sincronizam. Como um coro cantando junto.”

É nesse contexto cerebral que as alucinações acontecem. Na fase N1, as ondas ficam mais lentas principalmente na região occipital, que está relacionada à visão. Mota compara as alucinações que ocorrem nessa fase a gifs, enquanto os sonhos seriam os filmes.

A função dessas alucinações ainda não é clara. Em um estudo publicado em 2022, Mota e colegas estudaram alucinações hipnagógicas em 28 participantes. Eles eram apresentados com algumas imagens e então tentavam dormir. Quando atingiam o estágio N1 ou N2 do sono (monitorado por eletrodos acoplados ao couro cabeludo), a equipe acordava os participantes e perguntava com o quê eles haviam alucinado.

No geral, as alucinações estavam relacionadas às imagens que as pessoas viram antes de dormir, mas de maneira atenuada. “Uma pessoa que viu um tubarão antes de adormecer, por exemplo, classificava aquela imagem como extremamente negativa. Mas quando o tubarão aparecia no sonho, ele já não era tão ameaçador”, diz Mota. A hipótese é que as alucinações sejam uma forma de processar as emoções, para que o indivíduo consiga lidar melhor com elas.

“Se você foi assaltado durante o dia, por exemplo. Você precisa metabolizar a emoção negativa e extrair o aprendizado daquela situação. É importante dissociar o excesso de emoção da experiência, e guardar na memória a informação contextual, para evitar que aconteça de novo”.

É importante dissociar o excesso de emoção da experiência, e guardar na memória a informação contextual, para evitar que aconteça de novo”. Outra ideia é que eles sejam maneiras do cérebro se preparar para cenários futuros, o que faz com que ele projete possíveis cenas nos sonhos.

Fontes: artigo “​​Imagetic and affective measures of memory reverberation diverge at sleep onset in association with theta rhythm”.

Por Maria Clara Rossini / Superinteressante

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