A tradição de comer comida baiana toda sexta-feira é uma prática que une culturas e religião, especialmente no Recôncavo Baiano. Embora seja frequentemente associada à sexta-feira da Paixão, essa tradição tem raízes mais profundas, refletindo o encontro do catolicismo e das religiões de matriz africana.
Segundo o historiador, chefe de cozinha e Babalorixá Elmo Alves, a comida baiana, com destaque para o uso do dendê, é um elemento central na culinária religiosa, mas não se limita a ela. O dendê é importante na cozinha de santo, embora nem todos os orixás o aceitem, como é o caso de Oxalá, que não consome esse ingrediente. A “cozinha de santo” utiliza o dendê de forma significativa, mas a tradição de comer pratos com esse ingrediente se estende para as sextas-feiras como uma forma de identidade e cultura.
Elmo Alves explica que essa tradição se fortaleceu com o tempo e foi passada de geração em geração, especialmente nas cidades do Recôncavo Baiano, como Salvador, Santo Amaro, Cachoeira e Santo Antônio de Jesus. Nessas localidades, o dendê é um símbolo de pertencimento e união, sendo mais que um simples alimento: ele representa a identidade afro-baiana e a ideia de comensalidade, de comer não apenas por necessidade, mas para reunir e fortalecer laços familiares e comunitários.
A sexta-feira Santa, marcada pela abstinência de carne vermelha pelos católicos, se mistura com a prática do candomblé, onde o dia é visto como um momento de purificação e leveza. O peixe, símbolo cristão associado ao martírio de Cristo, é um alimento considerado sagrado para essa data. Por outro lado, a culinária afro-baiana traz o dendê, criando uma fusão de culturas no prato.
Elmo Alves ainda ressalta que essa prática, que remonta à Semana Santa, se espalhou ao longo do tempo, com a sexta-feira se tornando um dia especial para celebrar a união entre as culturas afro-brasileira e católica, refletida na mesa. Assim, em cidades como Salvador, Santo Amaro, Cachoeira e Santo Antônio de Jesus, a comida baiana com dendê se transforma em uma tradição que simboliza a identidade afro-católica e a valorização da história de um povo.
Essa fusão de elementos culturais e religiosos na comida baiana, particularmente nas sextas-feiras, reforça a importância da gastronomia como meio de expressão cultural e união nas comunidades do Recôncavo Baiano.