Por que mortes por coronavírus sobem em SP mesmo com quarentena?

Trabalho nas UTIs que recebem pacientes de Covid-19 - Imagens: Reprodução

Apesar das medidas de restrição adotadas no estado de São Paulo, o número de mortos por covid-19 (a doença causada pelo novo coronavírus) não parou de subir e seguirá crescendo diariamente, explicam especialistas ouvidos pelo UOL, pois os dados que estão sendo apresentados agora representam resultados de exames represados há pelo menos uma semana, no mínimo.

Os especialistas ouvidos pela reportagem alertam que o crescimento já era esperado e que as medidas de restrições adotadas para forçar o isolamento social são fundamentais e deveriam, inclusive, ser ampliadas no momento em que o estado caminha para o pico da crise. Ontem, o governador João (Doria) ampliou a quarentena no estado até o dia 22 de abril.

Segundo os boletins epidemiológicos divulgados pelo Centro de Vigilância Epidemiológica Professor Alexandre Vranjac, da Secretaria de Estado da Saúde, que compila dados da epidemia de covid-19 por município, o número de óbitos na cidade de São Paulo mais que dobrou em uma semana, entre 30 de março e 6 de abril.

No dia 30, a cidade tinha 103 mortes confirmadas pela doença e no dia 6, 220 mortes, um crescimento de 114%.

A alta no número de mortes entre dia 4 (212) e dia 6 (220) foi de 3,7%. Foi a primeira vez, desde o dia 30, que o crescimento de mortes foi menor do que dois dígitos entre um boletim e e outro —no domingo (5) não houve divulgação. O crescimento diário das mortes girou entre 12% e 16% por dia na semana passada e deverá voltar a crescer nesse ritmo esta semana, enquanto houver exames represados.

Em todo o país, o Ministério da Saúde anunciou ontem (6), 12.056 casos de covid-19 e 553 mortes pela doença, um crescimento de 13,7% no número de óbitos em relação aos dados do dia 5, que apontavam para 486 mortes em decorrência da epidemia. São Paulo é o estado com mais casos (4.866) e mais mortes (304).

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Crescimento seguirá

“Os dados ainda estão entrando. Vai continuar subindo [o número de mortos], pois não é a fotografia do que está acontecendo hoje na epidemia. É o dado represado que está entrando. São os óbitos suspeitos que continuam em investigação, os resultados estão sendo entregues e os números vão dar uma inflada”, explica o epidemiologista Mauro Sanchez, da UnB (Universidade de Brasília), um dos cientistas que participam da iniciativa voluntária Covid-19 Brasil, um site que acompanha dados de todo o Brasil sobre a nova doença.

“Esses óbitos que estão aparecendo agora é de gente enterrada há mais de uma semana”, explica o professor de medicina social Domingos Alves, da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto.

O próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admitiu esse quadro. Segundo ele, os resultados dos exames estavam represados e por isso os números de casos e óbitos cresceram tanto nos últimos dias.

Exames que estavam sem resultado também foram apontados por autoridades paulistas para o motivo do crescimento de óbitos e casos de covid-19 em São Paulo.

No Estado de São Paulo havia no final da semana passada uma fila de 16 mil amostras coletadas aguardando análise. O diretor do Instituto Butantã, Dimas Tadeu Covas, assumiu a coordenação dos testes de coronavírus. A meta é eliminar a fila, ampliando o número de laboratórios credenciados, e, depois, baixar para 48 horas, no máximo, o intervalo entre a coleta e o resultado dos exames.

Sem restrições seria pior

“Se as medidas [de isolamento social] não estivessem acontecendo, o movimento [de subida de mortes] seria ainda mais acelerado”, afirma Sanchez. Os efeitos das medidas de restrição, contudo, só serão percebidos daqui a alguns dias, até porque a testagem será ampliada nos próximos dias com a chegada dos testes comprados pelo Ministério da Saúde.

“Enquanto não começarem a fazer exames em massa e não divulgarem os resultados dos exames represados, vai continuar com essa sensação na população de que as medidas de isolamento não estão funcionando. Contudo, é fundamental testar, manter ou ampliar as restrições e seguir com as medidas de higiene e prevenção”, afirma Alves.

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