Pré-candidato, Sérgio Moro não se opõe à ideologia de gênero, mas quer voto evangélico

Foto: Divulgação

O ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) está trabalhando em sua pré-candidatura à presidência da República este ano, e pretende buscar apoio dos evangélicos para tentar derrotar o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).

Moro está sendo assessorado pelo advogado Uziel Santana, ex-presidente da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE). Em entrevista recente, o conselheiro do ex-juiz afirmou que o pré-candidato pretende se apresentar como um “conservador moderado e democrático”.

A ideia de agradar a gregos e troianos deverá ser a linha principal da abordagem aos evangélicos pré-campanha do ex-juiz, e isso poderá ser observado na maneira hesitante com a qual o tema da ideologia de gênero será encarada:

“Moro vai combater a sexualização precoce das crianças, mas não pretende proibir discussões sobre o tema no contexto acadêmico”, afirmou Uziel Santana ao jornal Folha de S. Paulo.

Para evitar polêmicas, Moro não deverá propor mudanças na legislação em relação ao aborto, que atualmente é proibido, mas há exceções para casos de estupro, risco para a vida da mãe e anencefalia.

O ensino domiciliar, chamado de homescholing, é uma das bandeiras adotadas por muitos líderes evangélicos com a qual Sérgio Moro evita se comprometer. Segundo Santana, o ex-juiz abordará o assunto de “forma lateral”. Ou seja, apenas observará as discussões na sociedade.

Ciente de que é preciso apoio maciço do segmento evangélico para vencer uma eleição, como ocorreu com Bolsonaro em 2018, Santana afirmou que Moro pretende buscar diálogo com o pastor Silas Malafaia e outros apoiadores da reeleição do presidente.

“Malafaia é polêmico, mas a igreja dele é séria”, afirmou Santana, ponderando que não está pleiteando um apoio institucional da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) ou qualquer outra denominação.

“A gente não quer esse tipo de relação, dá margem para muitos problemas. É uma aliança de princípios e valores”, acrescentou.

Ao longo de janeiro, a pré-campanha de Moro deverá buscar contato com diversas religiões, como a Igreja Mórmon, a Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambra) e a entidade Canção Nova, que é ligada ao movimento da renovação carismática da Igreja Católica).

“O recado é que a liberdade religiosa é um direito fundamental, que será respeitado e promovido”, explicou Santana.

Liberdade

Um dos temas mais delicados no país nos dois últimos anos, o cerceamento à liberdade de culto por autoridades, não foi mencionado por Santana na entrevista. Quando era ministro da Justiça, no início da pandemia, Moro demonstrou apoio a medidas coercitivas para obrigar cidadãos a acatarem as ordens de confinamento.

Na ocasião, Moro foi cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro para que se posicionasse contra o uso da força contra os cidadãos apenas por circularem nas ruas. Cenas de mulheres sendo algemadas e jogadas no chão por policiais e guardas municipais chocaram todo o país.

No entanto, Sérgio Moro jamais se manifestou em defesa da liberdade de ir e vir naquele cenário, ou mesmo, na defesa da liberdade de culto, algo que foi defendido por André Mendonça (que o sucedeu no Ministério da Justiça e depois reassumiu cargo na AGU), dizendo que os cristãos dariam a vida pelo direito de se reunir e louvar a Deus.

“Elas [medidas restritivas] podem ser impostas pela Polícia, a Polícia impô-las à força. Ninguém quer que a Polícia tenha necessidade de atender esse tipo de problema”, disse Moro, ainda como ministro.

Depois de sua demissão do cargo, o substituto revogou a portaria que ordenava o uso da força policial contra quem descumprisse medidas de confinamento, de acordo com informações do portal Migalhas.

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