Presidente do Instituto de Psicologia afirma que em família quanto mais espontânea a nudez, menos problemática será

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“A nudez, quando natural para o adulto, além de se tornar natural para a criança, cria intimidade. Ela torna a casa um lugar seguro, onde se pode confiar nas pessoas ao redor, explica Maura de Albanesi, psicóloga transpessoal e presidente do Instituto de Psicologia Avançada (SP).

A terapeuta sugere que o hábito de mostrar o corpo para os outros membros da família é adquirido e avaliado conforme a criação e, também, diz respeito sobre se sentir à vontade. Quanto mais espontaneamente se enxerga a nudez, menos problemática ela será para todos em casa.

Meninos pelados

Logo que o menino nasce, todo mundo quer ver o saquinho, o pênis…, ilustra a psicóloga acerca da relação que as pessoas têm com a nudez masculina, e completa: os meninos são estimulados sexualmente desde o nascimento. É normal que ele ande com a torneirinha balançando por aí. Portanto, pais e mães convivem com o filho da maneira como ele veio ao mundo de forma mais descomplicada e tranquila, nu sem problemas.

E, se na adolescência ele não adquirir a famigerada timidez do período, isso pode se estender ao longo dos anos sem acarretar problemas para ninguém tanto ver o filho nu, quanto ficar nu na frente dele. Ficar pelado não prejudica ou facilita alguma coisa no desenvolvimento dos filhos, além da naturalidade com que eles encaram a questão, diz a especialista. Mas, com certeza, o ato faz com que, ao se tornarem adultos, meninos e meninas tenham menos vergonha do próprio corpo, completa.

Garotas nuas

As maiores preocupações dos pais ao aprovar a nudez feminina são exacerbar a sua sexualidade ou estimular o incesto. Muitas pessoas acreditam na possibilidade da filha se sentir atraída pelo pai ou o contrário, relata Maura. Na verdade, segundo a terapeuta, a malícia vem do adulto e jamais da criança, que é apenas curiosa por natureza e pode sentir vontade de tocar, olhar, mas jamais com uma conotação sexual.

Quando o adulto tem malícia, pode acreditar que ele vai provocar qualquer um, mesmo estando completamente vestido, exemplifica a psicóloga. A grande verdade é que as meninas têm uma educação sexual bem diferente dos meninos, porque são incentivadas a se preservar e esconder o corpo a partir do momento em que nascem.

Contudo, se desde pequenas convivem com uma família que a permite ser livre em relação ao próprio corpo e retribui da mesma forma, elas crescerão menos constrangidas com a nudez e mais seguras para encarar as novas fases da vida. A nudez não exacerba a sexualidade, apenas a torna mais livre. Vale lembrar que, na adolescência, com todas as suas mudanças físicas e emocionais, as filhas tendem a se retrair e podem passar a evitar até a banal prova de roupas no provador junto com a mãe! O que fazer? Respeitar. Porque cada um deve mostrar aquilo que bem entende.

Impondo regras

Não há um limite de idade para suspender o banho com os filhos, parar de andar pelado ou em trajes mínimos pela casa. O que existe é um acordo velado. A nudez cria intimidade ou estimula o crescimento das crianças com menos vergonha do corpo.

Existem filhos que nunca viram seus pais pelados e outros que os observam assim todos os dias, da mesma forma que existem pessoas tímidas e outras mais liberadas em relação à própria pele, e tais comportamentos não são certos ou errados, apenas estão inseridos em cotidianos distintos.

O respeito e a conversa devem estar presentes, sempre. É bom explicar para a criança que dentro de casa é normal as pessoas andarem sem roupa, tomarem banho juntas, porque são uma família e, talvez, na casa do amiguinho não seja assim e ele deve conviver com as diferenças, aconselha a terapeuta.

Porém, a nudez passa a ser tão natural e normal, que o pequeno perceberá sozinho que certas coisas acontecem apenas na sua própria casa. Na casa da minha mãe, todo mundo andava pelado. As reuniões às vezes aconteciam no banheiro! Enquanto um tomava banho, outro escovava os dentes e o terceiro fazia as necessidades… Hoje, na minha casa, a situação é muito parecida. Questão de educação!, finaliza Maura, que diz ter uma família, literalmente, sem vergonha.

Por Cáren Nakashima – iG / Delas

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