Remédios para tratamento cardíaco, diabetes e inflamações podem piorar o quadro de quem for infectado pelo novo coronavírus. E especialistas alertam: antes de trocar a medicação, é essencial consultar os médicos. O Estado levantou dúvidas com base em questões enviadas por leitores do grupo Estadão Informa: Coronavírus, espaço para discussão e troca de informações sobre a pandemia criado pelo jornal no Facebook.
As respostas têm como base entrevistas com o farmacêutico Ismael Rosa, diretor acadêmico do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), do professor Eliseu Waldman, infectologista da Faculdade de Saúde Pública da USP, e também reportagens feitas pelo Estado. O grupo é um espaço para discussão e troca de informações sobre a pandemia na rede social. Qualquer usuário pode se inscrever e enviar suas dúvidas.
Hipertensos estão entre os grupos de risco do coronavírus?
Sim. Os hipertensos geralmente fazem uso de remédios como captopril, enalapril e lisinopril, que são inibidores de uma enzima intimamente ligada à infecção pelo vírus. Isso porque o uso desses medicamentos resulta na elevação da chamada “enzima conversora de angiotensina 2”. O mesmo ocorre com remédios que bloqueiam receptores dessa substância, que aliviam a pressão arterial, como losartana e valsartana. O vírus precisa dessa enzima no organismo para fazer infectar os tecidos do corpo – especialmente o sistema cardiovascular. Se a pessoa toma esses medicamentos, eles resultam na elevação dos níveis dessa enzima. Isso vai potencializar a infecção no organismo. Estudos preliminares, ainda inconclusivos, detectaram o mesmo efeito no uso do ibuprofeno – e por isso a Organização Mundial de Saúde desaconselhou o uso desse medicamento.
O paciente deve cortar o uso desses medicamentos?
Não. Nenhum medicamento para hipertensão, diabetes ou qualquer quadro clínico específico deve ter o uso descontinuado sem orientação médica. A orientação é que o paciente procure o profissional com o qual se consulta – no caso dos hipertensos, um cardiologista – para saber se é o caso de substituição do remédio. Cortar o medicamento pode trazer complicações, e é essencial o paciente estar com a saúde estável se contrair o coronavírus, o que diminui influência negativa no quadro clínico.
Há substitutos para esses remédios?
Sim, mas somente o cardiologista que está acompanhando esse paciente pode avaliar. Dependerá da análise de risco e benefício para esse paciente.
Se é um paciente que não teve exposição ao vírus, que não está numa região que é endêmica ainda, nem tem histórico de viagem para locais onde há epidemia, por exemplo, a troca de medicamento pode ser dispensada.
É verdade que o medicamento favipavir ajuda no tratamento do coronavírus?
Os resultados do uso do favipavir para tratar infecções da covid-19 são preliminares. Os testes foram feitos em pacientes na China e, segundo as autoridades do país, o tempo médio de tratamento com o remédio foi de apenas quatro dias. Sem o favipavir, outros pacientes levaram 11 dias para testar negativo. Ainda segundo autoridades chinesas, radiografias mostraram melhoras na condição dos pulmões de 91% dos medicados, ante 62% no outro grupo. A droga é comercializada no mercado japonês desde 2014 com o nome Avigan.
Qual remédio ter em casa para tratar os sintomas?
Nunca é recomendável ter “farmácias” dentro de casa. A primeira recomendação é conversar com um farmacêutico, que é o profissional mais acessível à população. É ele que pode dizer se, de acordo com os sintomas, é possível recomendar algum medicamento isento de prescrição – no caso de gripe, por exemplo –, ou se deve haver algum encaminhamento ao serviço de saúde.
É preciso ter cuidado com o efeito de outros remédios para o coronavírus?
Sim. Os corticoides, por exemplo, são imunossupressores. Eles baixam a imunidade e, automaticamente, se uma pessoa está com a imunidade baixa há preocupações relacionadas tanto com a covid-19 quanto com qualquer outro vírus ou infecção. Para quem faz uso desse remédio, a orientação é a mesma que vale para os grupos de risco: antes de mudar o uso do remédio, consulte um médico.
Estadão