Um ano depois do primeiro julgamento político, o ex-presidente Donald Trump enfrentará a partir de terça-feira (9) um segundo processo no Senado, cujos integrantes devem determinar se ele incitou ou não o ataque ao Capitólio que deixou cinco mortos em janeiro.
Os 100 senadores também entrarão em território polêmico e inexplorado ao julgar um presidente que não está mais no cargo.
Trump continua gravitando ao redor do Partido Republicano, apesar de ter deixado a Casa Branca, mas hoje parece politicamente enfraquecido.
No centro dos procedimentos da próxima semana está o ataque de 6 de janeiro, quando centenas de partidários de Trump invadiram o Congresso, enfrentaram a polícia e tentaram impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.
O levante, que segundo alguns congressistas democratas foi uma tentativa de golpe protagonizada por terroristas domésticos, foi descrito como o maior ataque à democracia americana desde a Guerra Civil de 1860.
A ação deixou os membros do Congresso em choque e a nação tão enfurecida que os democratas iniciaram de maneira imediata o processo de destituição contra Trump, duas semanas antes do fim de seu mandato.
Em 13 de janeiro, a Câmara de Representantes o acusou de “incitação à insurreição”, o que transformou Trump no primeiro presidente americano a ser submetido duas vezes a um julgamento político. Nenhum outro comandante em chefe foi tão desonrado.
Nenhum presidente dos Estados Unidos, no entanto, foi condenado em um julgamento de impeachment no Congresso e provavelmente esta não será a exceção.
Um dos principais objetivos dos democratas que defendem o julgamento político seria conseguir que Trump não possa mais ocupar um cargo eletivo no futuro.
Os canais de televisão americanos cobriram o ataque ao Congresso ao vivo. Alguns vídeos que circularam na internet mostram participantes da invasão ao Capitólio repetindo que Trump “nos quer aqui”.
Os críticos do ex-presidente afirmam que ele violou o juramento ao incitar o ataque de seus partidários.
O republicano e seus aliados argumentam que o julgamento é inconstitucional porque o Senado pode condenar e destituir um presidente em exercício, mas não um cidadão comum.
Esta abordagem permitiria à equipe de defesa e aos senadores republicanos evitar a necessidade de defender os tuítes e diatribes de Trump no período prévio ao ataque.
A presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, que reuniu um equipe de nove democratas para atuar como relatores do julgamento político, afirma que não condenar o ex-presidente prejudicaria a democracia americana.
“Veremos se este Senado é corajoso ou covarde”, afirmou Pelosi na quinta-feira.
“Barril de pólvora”
Condenar Trump exige o voto de mais de dois terços dos senadores, o que significa que 17 republicanos precisariam votar ao lado dos 50 democratas, algo pouco provável.
Mas o ex-presidente tem muito a perder com o julgamento, que será exibido ao vivo.
Embora conserve uma sólida base de apoio, os distúrbios provocaram uma forte queda em sua popularidade, o que não é bom para um homem de 74 anos que almeja disputar as eleições presidenciais de 2024.
Em um relatório prévio ao julgamento que resume seus argumentos, a equipe de nove democratas reunida por Pelosi acusa Trump de “fabricar um barril de pólvora, riscar um fósforo e depois buscar uma vantagem pessoal do caos resultante”.
Também sinalizaram a intenção de utilizar várias declarações públicas incendiárias do próprio Trump, incluindo seu discurso de 6 de janeiro anterior aos distúrbios, pronunciado para uma multidão de simpatizantes perto da Casa Branca e no qual pediu que as pessoas demonstrassem “força”.
“Vocês nunca terão o nosso país de volta com fraqueza”, disse Trump, antes de pedir aos manifestantes a “lutar como o inferno “.
Os advogados de defesa priorizam dois pontos: que o julgamento é “discutível” porque Trump não pode ser destituído de um cargo que não ocupa mais e que o ex-presidente utilizou seu direito à livre expressão quando expressou dúvidas sobre o resultado eleitoral, assim como quando pronunciou o discurso inflamado de 6 de janeiro.
Os parâmetros do julgamento ainda não foram estabelecidos.
Os democratas não anunciaram que provas utilizarão nem as pessoas que pretendem convocar como testemunhas, por exemplo os policiais que trabalhavam no Capitólio. Mas o convite para que Trump testemunhe no julgamento foi rejeitado pela equipe do ex-presidente.
De acordo com a imprensa americana, os democratas não consideram a ideia de obrigar Trump a comparecer ao processo.
Os republicanos, divididos sobre a futura orientação do partido, não desejam aprofundar ainda mais suas divergências por este episódio.
Muitos democratas pretendem priorizar os acordos com a oposição para aprovar o gigantesco pacote apresentado pelo presidente Biden para combater a pandemia de covid-19. (A Tarde)