No próximo sábado (14), o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, completa dois anos. Quem mandou matá-los? Essa pergunta ainda continua sem resposta. E o interesse público sobre a história tem sido aproveitado no jornalismo e até na ficção.
Só na Globoplay, plataforma de streaming da Rede Globo, duas séries foram anunciadas, uma documental e outra ficcional. A primeira estreia nesta sexta-feira (13), mas tem o primeiro episódio exibido na TV aberta, quinta (12) após o Big Brother Brasil. A segunda está na fase de pré-produção e tem direção de José Padilha, o mesmo do filme Tropa de Elite e da série O Mecanismo, da Netflix, sobre a Operação Lava Jato.
A série Marielle – O Documentário tem seis episódios e conta a história da mulher nascida no Complexo da Maré, que se tornou militante dos direitos humanos e, na sua primeira campanha eleitoral, em 2016, recebeu mais de 46 mil votos, tornando-se a quinta vereadora mais votada do Rio.
Marielle foi assassinada aos 38 anos. O carro em que ela estava, junto com Anderson Gomes e com a assessora Fernanda Chaves, foi alvejado quando voltavam de um encontro de mulheres na Lapa. Apenas Fernanda sobreviveu. Marielle deixou uma filha, Luyara, e a viúva Mônica Benício. Já Anderson era marido de Agatha e pai do pequeno Arthur.
Para contar essa história, foram necessários cinco meses de produção da série, que contém conteúdo audiovisual inédito. O documentário tem direção e roteiro do jornalista Caio Cavechini. O material marca o início da produção de séries documentais do jornalismo da Globo para o Globoplay.
Ricardo Villela, diretor-executivo de Jornalismo da Globo, afirma que por tudo que o crime envolve era quase uma “obrigação” produzir a série. ”Quem assiste ao documentário, se emociona e se informa com a história da menina da Maré que chegou à Câmara de Vereadores, e descobre uma Marielle ainda desconhecida, que teve baile de debutante, foi rainha da primavera e frequentou baile funk. O crime aparece em toda a sua barbaridade, os problemas na investigação, as fake news que vieram depois”, disse ao CORREIO.
Na série, duas cronologias correm em paralelo: a história de vida de Anderson e Marielle e o que aconteceu entre 14 de março e os dias de hoje. “Ao mesmo tempo em que avançamos numa determinada linha de investigação, mostramos detalhes da vida deles que o público ainda não sabe”, resume Cavechini. A série também tem entrevistas com familiares das vítimas, policiais, jornalistas que cobriram o caso, procuradores e autoridades políticas.
Cavechini diz que o principal desafio foi conciliar uma linguagem de observação de um documentário, com um caso em que a polícia não oferece muito acesso. “É difícil acompanhar isso e tentar contar essa história num processo que é muito recente. Tem só dois anos. A família ainda sofre com isso, as investigações estão em andamento”, pontua.
Já a série ficcional ainda não possui título definido e só será lançada em 2021. O anuncio da produção, feito na última sexta, gerou críticas devido à falta de profissionais negros na equipe de pré-produção. Além de José Padilha, os nomes confirmados, até agora, foram o da autora, Antonia Pellegrino, que será produtora executiva, e o de George Moura, que vai liderar o time de roteiristas.
Dezenas de profissionais negros da área assinaram uma nota de repúdio à série. “Não surpreende que a história de uma mulher negra seja contada a partir do ponto de vista de três pessoas brancas”, afirmam os signatários da nota.
Além da questão racial, a escolha de José Padilha para a direção da série tem sido criticada nas redes sociais. Para alguns, a série sobre a Operação Lava Jato, na Netflix, enalteceu a imagem de Sérgio Moro e evidenciou o apoio do cineasta à operação.
Padilha já afirmou publicamente que apoiava a Lava Jato, mas em abril de 2019, num artigo publicado na Folha de S. Paulo, voltou atrás. Após o filme Tropa de Elite, que fala sobre o poder das milícias e suas ramificações políticas no Rio, Padilha sofreu uma tentativa de sequestro e teve que sair do Brasil. Esse vai ser o primeiro trabalho dele para a Globo.
“Vamos contar uma história importante, a história da vida e, infelizmente, da morte de Marielle. E, ao fazê-lo, vamos abordar, mais uma vez, o problema da violência urbana no Rio, da corrupção policial e das milícias e sua influência na política. A série será ficcional, como os dois Tropas de Elite foram ficcionais. Mas baseada em uma história real e na vida de Marielle, e em tudo o que ela representa”, pontuou Padilha (Correio).