Sobrinha de médico que morreu com Covid-19 em Ilhéus fala que remédios usados por tio foram comprados na farmácia

A sobrinha do médico que morreu em Ilhéus, após ser diagnosticado com Covid-19, afirmou, em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (22), que os remédios que o tio tomou, que podem ter contribuído para morte dele, não foram recebidos pelo hospital onde ele trabalha, o Hospital Regional Costa do Cacau (HRCC), mas sim comprados em uma farmácia.

Gilmar Calasans, de 55 anos, morreu na manhã da última segunda-feira (20). Onze anos antes, ele ficou conhecido em todo país com o caso do menino das agulhas.

Segundo Daniela Calasans, os remédios foram comprados por um caseiro do tio, após ser receitado por um médico do Hospital do Cacau. No entanto, na terça-feira (21), o Secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, afirmou que uma sindicância foi instaurada para apurar a liberação de hidroxicloroquina e azitromicina no Hospital Regional Costa do Cacau (HRCC) para o profissional.

“O médico esteve a todo momento acompanhando meu tio. O remédio não estava à disposição no hospital coisa nenhuma. O remédio foi comprado. Um caseiro que trabalha para meu tio que comprou o remédio”, completou.

Receita que sobrinha do médico aponta como a prescrita por médico.  — Foto: Arquivo Pessoal
Receita que sobrinha do médico aponta como a prescrita por médico. — Foto: Arquivo Pessoal

O depoimento da mulher ocorreu um dia após o secretário afirmar que o homem realizava o tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina na própria casa, e estava respondendo bem, quando sofreu um mal súbito.

O secretário também destacou que o caso do médico não se tratou de automedicação, já que ele tinha receita para uso dos medicamentos, fornecida por um colega.

Em entrevista ao Bahia Meio Dia desta quarta-feira (22), ele voltou a falar sobre as investigações. 

“Nós apuramos essa irregularidade na dispensação da medicação de controle hospitalar. O protocolo que o governo do estado desenhou para dispensação de hidroxicloroquina a pacientes com o coronavírus exige que o paciente seja internado”, disse.

“Nenhum paciente ambulatorial terá acesso através dessa medicação. Nós também estamos dispensando a hidroxicloroquina para ambulatorial [apenas] para pacientes com lúpus e outra doença que já havia fazia tratamento prévio. Nós temos estoque de 1 milhão’, completou.

Daniela Calasans contou ainda que diferentemente do que o secretário divulgou, o homem não era diabético, apenas hipertenso. E que ele será lembrado pelos gestos deles. “Ele era um médico carismático”, disse.

Até a tarde desta quarta-feira (22), a Bahia tinha mais de 1600 casos da doença, com 50 mortes.

Foto do médico com a sobrinha, Daniela Calasans. — Foto: Arquivo Pessoal
Foto do médico com a sobrinha, Daniela Calasans. — Foto: Arquivo Pessoal

Morte do médico

Médico Gilmar Calazans morreu na manhã desta segunda-feira (20) — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Médico Gilmar Calazans morreu na manhã desta segunda-feira (20) — Foto: Reprodução/Redes Sociais

A morte de Gilmar Calazans ocorreu na manhã da última segunda-feira (20). Ele trabalhava no setor de internamento do Hospital Regional Costa do Cacau (HRCC), testou positivo para o novo coronavírus na última quinta-feira (16), quando iniciou o processo de quarentena.

Como tinha um histórico de hipertensão desregulada, ele apresentou um agravamento no quadro de saúde e procurou ajuda na unidade onde trabalhava, mas sequer deu tempo de ser regulado. Em nota, a direção do Hospital Regional Costa do Cacau (HRCC), lamentou o falecimento do médico.

Ele foi enterrado na terça-feira (21), em um Cemitério de Ilhéus. Alguns colegas se despediram dele com palmas.

Ao todo, 158 profissionais de saúde na Bahia foram infectados pelo coronavírus, entre eles médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros servidores. (G1/Ba)

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