Terrivelmente grato, Mendonça vai a culto de Malafaia: ‘Deus prometeu’

Foto: Divulgação

O novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, não disfarçou: terrivelmente evangélico, como queria o presidente Jair Bolsonaro, demorou apenas oito dias para agradecer, in loco, à base evangélica que fez campanha pelo seu nome. Na noite desta quinta-feira, 9, ele esteve na igreja do pastor bolsonarista Silas Malafaia, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, na zona norte do Rio. Falou por cerca de 25 minutos, apresentou-se como “pastor André” e disse que Deus tinha prometido a nomeação para a Corte, que estaria selada “desde antes da fundação do mundo”.

“Eu nunca tive dúvida das promessas de Deus e daquilo que Deus tinha me dito anos atrás. Eu até não via como certas coisas se realizariam, mas eu sabia o que Deus tinha prometido”, afirmou. “Num processo dessa natureza, meus irmãos e minhas irmãs, você não pode olhar para as circunstâncias, para os homens, para os boatos, os rumores, para visões ou profecias do caos ou para o impossível. Para onde nós olhamos? Para Deus.”

Ainda nessa linha, enquanto caminhava para um lado e para outro bem ao estilo dos líderes evangélicos, Mendonça brincou com a tranquilidade que demonstrou durante a sabatina com os senadores. “Eu estava em paz, tranquilo. Não que não tenha sido cansativo, exaustivo. Mas eu sabia que Deus já havia escrito a história”, disse, com o dedo indicador apontado para o céu.

Com capacidade para cerca de 6 mil pessoas, o templo da Assembleia – que custou R$ 30 milhões e foi inaugurado em 2014 – ovacionou o advogado e fez ressoar gritos de “glória a Deus” a cada frase forte do advogado.

Além de Malafaia, estiveram com o novo ministro o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), o senador Romário (PL-RJ), parlamentares bolsonaristas e até os desembargadores Aluísio Mendes, Marcelo Buhatem e William Douglas. “[Mendonça] não é simplesmente um evangélico. É um pastor evangélico que vai sentar no Supremo Tribunal Federal”, disse o pastor Silas Malafaia, para aplausos e gritos de “amém” e “aleluia” dos fiéis, logo no início do culto.

Mendonça não se limitou a falar da relação com Deus ou da nomeação para o Supremo. Fez questão de saudar os políticos que lá estavam. “Quem é o senador mais habilidoso da história da República?”, perguntou de forma retórica, a fim de saudar o ex-jogador Romário. “É vascaíno!”, bradou um fiel.

Castro, que vinha tentando manter independência em relação à família Bolsonaro, agora se viu obrigado a voltar para os braços do clã, já que o presidente se filiou ao PL. Ele e Mendonça chegaram a conversar no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, antes do culto. Falaram, em linhas gerais, sobre a economia do Rio, muito refém da União – o Estado está enquadrado no Regime de Recuperação Fiscal. Na igreja, o cantor católico que virou governador foi apresentado por Malafaia como um “cara que vem fazendo um trabalho muito bacana, compromissado com princípios e valores”

Bolsonaro declarou ainda em meados de 2019 que gostaria de indicar um ministro ‘terrivelmente evangélico’ para o Supremo. Demorou cerca de um ano e meio, mas o fez. Mendonça é pastor presbiteriano, mas recebeu o apoio de outras figuras bolsonaristas ligadas a igrejas neopentecostais. Malafaia foi uma das principais. Depois de uma novela de meses, o nome do ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União foi aprovado na semana passada pelo Senado, com 47 votos a favor e 32 contra. “Perderam! Chupa essa manga”, berrou Malafaia para os que votaram de forma contrária na sabatina.

Para o pastor da Assembleia, é uma mistura de “estupidez, imbecilidade e preconceito juntos” questionar a laicidade do Estado por causa da escolha de um pastor para o STF. Embalado pela sua retórica, aproveitou para criticar os “esquerdopatas”, como gosta de chamar “essa esquerda que nunca contribuiu em nada para o mundo ocidental” e que quer acabar com o modelo judaico-cristão e criar uma sociedade “ateísta-humanista”.

“O Brasil é do senhor Jesus”, sentenciou Malafaia, pedindo para os fiéis repetirem a frase.

Segundo o Datafolha, mais de 30% dos brasileiros são evangélicos, ante cerca de 50% de católicos. A curva de crescimento, contudo, aponta para uma maioria evangélica em cerca de dez anos. Mulheres negras representam “a cara” do evangélico brasileiro, também de acordo com o instituto.

Uma delas, a recepcionista Fabíola dos Santos, 33 anos, esteve nesta noite no culto de Malafaia e celebrou a presença e a nomeação de Mendonça. “É uma honra, um prazer ter um ministro evangélico. Importante. É a melhor coisa”, disse a VEJA. (Veja)

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