O diretor de Pesquisas do IBGE, Eduardo Rios Neto, rebateu críticas de que faltou democracia nas mudanças no questionário do Censo 2020 e elogiou a relação do atual governo federal com o instituto.
“Temos que falar a verdade: transparência é agora”, afirmou, citando como exemplo a obtenção, pelo IBGE, de dados do CadÚnico (cadastro de beneficiários de programas sociais) e bases da Receita Federal.
“A gente teve quatro anos de gestão de uma linha política [governo petista] que desenvolveu o CadÚnico, e merece elogios por isso, mas não o disponibilizava. Tinha dono. Hoje, pela primeira vez, a gente tem acesso”, afirmou.
Segundo Rios Neto, o IBGE trabalha para parear dados do instituto com os coletados em registros administrativos, como o CadÚnico, e torná-los públicos, garantindo o sigilo das informações individuais.
“Não é só o professor pesquisador que vai ter acesso, numa sala especial para manter o sigilo. Qualquer aluno de mestrado vai poder usar”, afirmou, em palestra sobre as mudanças no Censo 2020, no Insper (SP), nesta sexta (16).
Rios Neto também afirmou que o principal objetivo da redução do número de perguntas dos questionários básico (aplicado em todos os benefícios) e amostral (em 10% deles) não uma imposição de cortar custos (ele contou que chegou a virar “Eduardo Mãos de Tesoura” em memes juntavam sua imagem à do personagem central do filme de Tim Burton), mas a procura por maior cobertura e qualidade dos dados.
Pesquisadores que tiveram acesso à pesquisa de avaliação do Censo 2010, que não foi tornada pública pela então gestão do IBGE, dizem que ela identificou falhas nesse último levantamento.
Um dos principais problemas encontrados é a dificuldade de entrevistar famílias mais ricas, cujos condomínios fechados impedem a entrada dos recenseadores.
“O questionário do Censo foi vilanizado como o grande centro da discórdia. Agora, já está dando lugar à suposta falta de democracia do processo”, disse o diretor.
Questionamentos sobre como foi a decisão de retirada ou inclusão de perguntas no questionário foram o ponto central, por exemplo, de debate sobre o tema na última semana no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Rios Neto, que assumiu quando o conselho consultivo já havia entregue um questionário amostral em que o número de perguntas havia sido reduzido de 102 para 84. O diretor pediu uma redução adicional, para 70, e depois negociou um aumento para 76.
“A diferença é de 84 para 76. O que há de violação institucional nisso? Não houve intervenção, apenas um momento de crise institucional normal de uma equipe em formação, com um fecho em cima dos parâmetros que já vinham sido condensados”, afirmou o demógrafo e professor emérito da UFMG.
Embora tenha como meta fazer o pareamento dos dados públicos e torná-los acessíveis, o diretor disse que não defende que a existência de registros administrativos seja argumento para a redução do número de perguntas do Censo.
Segundo ele, no próximo levantamento o IBGE pretende permitir o autopreenchimento, por internet, da parcela mais rica da população, da qual parte se recusa a receber os entrevistadores.
É para aumentar o acesso a esse grupo que os dados da Receita são importantes para o instituto.
Embora não haja evidências empíricas de que questionários maiores aumentem a cobertura em censos, ele afirmou que, “principalmente em pesquisas pela internet, a clareza das perguntas e seu número são fundamentais para garantir respostas”.
Rios Neto apresentou na palestra questões que foram retiradas do questionário do ano que vem e quais bases de dados poderiam fornecer informações semelhantes.
Também justificou os dois pontos que, segundo ele, têm sido os mais controversos.
O primeiro é a pergunta sobre onde a pessoa vivia há cinco anos, que permite levantar tanto a origem quanto o destino de migrações internas. “A pergunta nunca esteve no questionário básico, e nossa análise mostrou que houve problemas com os resultados no levantamento de 2010”, afirmou.
A comissão entendeu, segundo ele, que não era o momento de incluí-la no questionário básico.
O segundo ponto, que também apareceu em questionamentos no debate do Cebrap, foi a retirada do valor do aluguel do questionário básico.
Pesquisadores argumentam que esse dado permite levantar o déficit habitacional nos municípios.
A contra-argumentação do IBGE é que o CadÚnico, que registra dados de famílias com até meio salário mínimo por pessoa ou até 3 salários mínimos de renda mensal total, já tem essa informação.
Rios Neto acrescentou que a Pnad Contínua coleta o valor do aluguel trimestralmente, a POF também pergunta esse valor, e o Censo 2020 perguntará se o domicílio é próprio ou alugado. (Agência Brasil)