Nove em cada 10 mulheres não confiam nos órgãos oficiais de atendimento à mulher vítima de violência. A conclusão é de uma pesquisa realizada pelo Instituto AzMina, em parceria com a consultoria Plurix, com 437 mulheres e homens de todo o Brasil.
A partir desses dados, o instituto desenvolveu novas ferramentas para o aplicativo PenhaS, que terá nova versão lançada no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O app reúne informação, redes de apoio, acolhimento e pedido de ajuda para mulheres em situação de violência doméstica.
“As mulheres ouvidas pela pesquisa mostram que querem acabar com a violência, mas nem sempre querem envolver a polícia para que isso aconteça, então elas precisam ter meios alternativos, o que demanda não só melhores políticas públicas, mas também uma conscientização da sociedade. E o PenhaS é uma das iniciativas para colaborar com o enfrentamento da violência”, diz Marília Taufic, idealizadora do app.
A pesquisa mostra que o problema começa na identificação da violência: 51% das mulheres responderam não sofrer ou já ter sofrido violência, por meio de pergunta direta. Mas ao serem questionadas de forma indireta sobre violências, a pesquisa do Instituto AzMina apurou que, da amostra total de mulheres, apenas 28% não sofrem violência, sendo a psicológica a mais frequente delas. Dos homens que responderam à pesquisa, 35% afirmaram já ter praticado algum tipo de violência em seus relacionamentos.
A nova versão do PenhaS chega no momento em que o Brasil enfrenta aumento das ocorrências de violência doméstica e feminicídios. O número de usuárias cadastradas no app cresceu 30% durante a pandemia (entre março de 2020 e fevereiro de 2021), o que sinaliza que o distanciamento social é um um fator de risco e uma grande ameaça para as mulheres em relacionamentos abusivos.
“O PenhaS conscientiza mulheres sobre as violências sofridas e também sobre seus direitos para que elas rompam o ciclo da violência doméstica com autonomia”, explica Marília Moreira, coordenadora do PenhaS, do Instituto AzMina.
Como o app funciona
Disponível para aparelhos iOS e Android desde 2019, o PenhaS foi baixado por cerca de 14 mil pessoas em todo o país. A nova versão traz novas funcionalidades e ferramentas para ajudar mulheres vítimas de violência, dentre elas um modo camuflado, que garante mais segurança; e um feed para interação em tempo real entre as usuárias do app, para promover melhor acolhimento.
Há dois anos no ar, o app tem se tornado referência entre iniciativas da sociedade civil no enfrentamento à violência doméstica, inclusive para órgãos públicos: a Casa da Mulher Brasileira de São Paulo e medidas protetivas expedidas por juízes do Fórum Criminal da Barra Funda, maior complexo judiciário criminal da América Latina, indicam o PenhaS.
O app reúne, em um mesmo lugar, três pilares importantes para que mulheres quebrem o ciclo de violência: informação, com uma área com reportagens sobre o tema e mapa onde é possível traçar a rota até uma delegacia ou serviço de atendimento mais próximo; acolhimento, que traz um chat para falar com a equipe d´AzMina e com outras voluntárias do aplicativo; e pedido de ajuda, com um botão para acionar cinco pessoas da rede confiança da usuária, um botão para ligar para a polícia e um gravador para produção de provas.
Além de mulheres em situação de risco, o PenhaS é destinado para qualquer pessoa disposta a combater a violência doméstica. Usuários que já tenham baixado o aplicativo deverão permitir a atualização a partir do dia 8 para ter acesso à nova versão. O cadastramento de todos usuários é realizado com checagem de CPF e verificação de número de celular, a fim de evitar criação de perfis falsos e abusivos. O anonimato é garantido para mulheres que se declaram em situação de violência.
“O combate à violência contra mulher é dever de toda sociedade. Por isso, o PenhaS é um aplicativo gratuito, possível de ser baixado por qualquer pessoa que busque informação de qualidade sobre como enfrentar a violência doméstica. A conscientização e a oferta de rede de apoio são fundamentais para que mulheres procurem ajuda e saiam de relacionamentos abusivos”, explica Marília Moreira. (Correios)