Um mês após assumir o governo Bolsonaro, o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, viu a sua empresa —A FW Comunicação— receber da Igreja Universal do Reino de Deus um aumento de 36% de remuneração contratual, por meio de um aditivo pactuado entre as duas partes. A informação foi revelada nesta sexta-feira (21) pelo jornal Folha de S. Paulo.
Edir Macedo, dono da TV Record, apoia Bolsonaro desde a campanha presidencial, em 2018. Ao lado dele, participou da parada de Sete de Setembro, em Brasília, no ano passado. Dias antes, juntamente com o chefe da Secom, o presidente foi ao Templo de Salomão, em São Paulo, para ser abençoado pelo bispo.
Segundo a Folha, na gestão de Wajngarten, a emissora do bispo passou a ser contemplada com percentuais maiores da verba publicitária da Secom, assim como outras TVs clientes da FW.
Wajngarten foi nomeado em 12 de abril do ano passado. Em maio, o montante repassado mensalmente pela igreja de Macedo à FW saltou de R$ 25,6 mil para R$ 35 mil. É o mais vultoso num conjunto de 11 clientes.
Os dados constam de planilha entregue na terça-feira (18) pela defesa do secretário à Comissão de Ética Pública da Presidência, pouco antes da sustentação oral feita em julgamento que arquivou o seu caso sem que houvesse nem sequer a abertura de uma investigação.
Contrariando precedentes, o colegiado acolheu argumentos de Wajngarten de que não há conflito de interesses no fato de ele exercer a chefia da Secom ao mesmo tempo em que a FW recebe recursos de TVs e agências contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais. Ele tem 95% das cotas da empresa e participação proporcional nos dividendos.
A lei de conflito de interesses veda o “exercício de atividade que implique a prestação de serviços ou a manutenção de relação de negócio com pessoa física ou jurídica que tenha interesse na decisão do agente público”.
No comando da secretaria, Wajngarten também tem prestigiado a Record em suas agendas oficiais. No fim de maio, viajou a Israel para participar do lançamento do sinal digital de transmissão da TV.
Outro lado
A Universal, em nota, afirmou que a FW faz auditoria e controle da exibição de programas evangélicos veiculados em espaços comprados de diferentes emissoras.
Segundo a igreja, o reajuste é anual, previsto em cláusula própria, e não está atrelado à posse de Wajngarten na Secom.
Procurada, a Secom atacou a reportagem da Folha. Em nota, afirmou que o jornal investe contra o secretário de Comunicação, “descontextualizando informações sigilosas para realizar perguntas e manipular respostas e reinseri-las em mais uma matéria caluniosa contra ele”. “Esse é [o] método insidioso dos repórteres e do jornal veicularem informações”, disse.
A Folha diz ter enviado questionamentos a Wajngarten, via Secom, mas a maioria não foi respondida. (Bahia.Ba)