Dos 20 maiores municípios da Bahia, pelos menos 12 já iniciaram a retomada das atividades econômicas. Uma reabertura mais ampla já ocorre em Feira de Santana, Vitória da Conquista, Juazeiro, Ilhéus, Teixeira de Freitas, Jequié, Barreiras, Alagoinhas, Porto Seguro, Paulo Afonso, Eunápolis e Luís Eduardo Magalhães. Essas cidades estão entre as mais populosas da Bahia, segundo dados do IBGE.
Em alguns casos, como Itabuna, a ação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) tem levado a um recuo dos gestores. No município do sul baiano, o MP recomendou ao prefeito Fernando Gomes (PTC) que não reabrisse o comércio no último dia 8, como ele chegou a anunciar. Em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo, o prefeito Rogério Andrade (PSD) já alternou períodos de flexibilização e fechamento, mesma situação da cidade de Valença, localizada na mesma região.
Somente cinco das 20 maiores cidades ainda não ensaiaram uma flexibilização maior e mantém fechadas as atividades do comércio desde o início da pandemia do novo coronavírus, em um esforço de tentar conter a propagação da doença. São elas: Salvador, Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Candeias, todas localizadas na RMS.
O secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, tem criticado a reabertura do comércio no interior. No Twitter, ele questionou, na última terça-feira, 16, o plano de retomada adotado em Feira de Santana. “Difícil entender como Feira de Santana, em plena rampa de crescimento de novos casos de Covid-19, tem suas regras de distanciamento social flexibilizadas”, escreveu.
O secretário também apontou uma segunda onda de infecção no interior em outros estados. “Vejam o que está acontecendo pelo país. Se repetirmos, seremos nós amanhã após abertura, quando o interior terá segunda onda de infecção de Covid-19”, afirmou o secretário. “Nós não estamos em uma fase de estabilização. Nós já estamos em uma fase de desaceleração do crescimento, mas nós não estamos estabilizados, estamos estabilizados no crescimento”, acrescentou ele.
A reabertura do comércio na maioria das principais cidades baianas acontece em meio à interiorização da Covid-19 em todo o país, com aumento significativo do número de casos já verificado em estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, além do Distrito Federal.
Interiorização da doença
Para entender o “caminho” do coronavírus em direção ao interior, é ilustrativo um estudo da Fiocruz Pernambuco. Capital pernambucana, Recife concentrava 71% dos casos da Covid-19 no estado no começo de abril, mas passou a responder por somente 34% em junho. Inversamente, os demais municípios pernambucanos, que representavam 29% em abril e passaram para 66% de todos os novos registros da doença no estado.
Entre as cidades baianas que já reabriram o comércio, Ilhéus e Vitória da Conquista preferiram não atender às recomendações do Ministério Público, que opinou contra a retomada das atividades, em função do aumento de casos de coronavírus nos municípios.
Em Ilhéus, entretanto, o processo de reabertura não poderá avançar para as fases seguintes por decisão judicial, a pedido do próprio MP. O objetivo é avaliar o impacto da retomada por duas semanas. Na atual fase, está liberado o funcionamento de lojas de artigos esportivos, para casa, tecidos, joalheria, vestuário, acessórios e calçados, móveis e colchões, agências de turismo, perfumaria e higiene pessoal, entre outros segmentos.
Presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB) e prefeito de Bom Jesus da Lapa, Eures Ribeiro (PSD) aconselha os gestores a fazer uma abertura lenta e com restrições, a exemplo do que vem fazendo o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). Para Eures, a gestão soteropolitana deveria ser um modelo para outros prefeitos nesse ponto.
“Eu não aconselho ninguém a abrir comércio. A gente ainda não está livre da pandemia.A maior zona de contaminação é o comércio, o centro [das cidades] é onde a população mais circula, então não dá para abrir tudo”, defende. Em Bom Jesus da Lapa, o funcionamento de estabelecimentos comerciais está permitido três dias na semana, diz o prefeito.
Entre os municípios que ainda mantém o comércio fechado, alguns autorizaram, em horários especiais, o funcionamento de espaços com boxes de gêneros alimentícios. Em Candeias, foi reaberta a Central de Abastecimento. E em Camaçari voltou a funcionar a Feira, nome pelo qual é conhecido o Centro Comercial.
Pressão pelo retorno
A pressão pelo retorno das atividades econômicas tem se intensificado nas últimas semanas. Na quinta-feira, 18, comerciantes de Camaçari realizaram um protesto. A prefeitura diz compreender a dificuldade de comerciantes e lojistas, mas pontua que, no estágio atual da doença no município, a reabertura do comércio não é possível.
“O município tem 100% dos leitos de UTI ocupados e ainda registra aumento no número de casos da covid-19. Neste cenário, uma flexibilização das atividades comerciais poderia não só provocar um aumento ainda maior no número de pessoas contaminadas como também levar a um colapso do sistema de saúde”, afirmou a prefeitura, em nota.
Planos de reabertura
Apesar de recomendação do Ministério Público do Estado (MP-BA) para que determinasse novamente o fechamento do comércio, a prefeitura de Vitória da Conquista disse que a decisão está embasada em orientações e recomendações técnicas da área da saúde. Segundo a gestão, o comércio poderá ser novamente fechado, a depender da evolução dos dados. Os parâmetros utilizados para avanço à fase seguinte do protocolo são ocupação de leitos inferior a 50% e média de novos casos inferior de 10% ao dia.
Na atual fase, já estão liberados comércio atacadista e varejista, salões, barbearias, floriculturas, entre outros. Nesta semana, a gestão pode avançar para a liberação de bares e restaurantes e, dentro de 15 dias, autorizar a reabertura de academias. “A gente entende que pode haver uma ação (do MP), mas estamos muito seguros com o protocolo, que prevê a possibilidade de avançar, se manter ou regredir de fase caso os números atinjam patamares perigosos”, disse o secretário de Administração, Kairan Rocha, coordenador do Comitê Gestor de Crise.
O prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB), também afirmou estar atento ao número de casos e à ocupação de leitos no município e diz que não terá problema em recuar, caso necessário. O gestor reforçou, no entanto, que ainda não é possível avaliar os efeitos da flexibilização mais recente, iniciada na última terça-feira, 16.
Está em vigor no município um plano de “abertura escalonada” do comércio, com a liberação do funcionamento de todos os estabelecimentos de até 200m², em dias alternados conforme o setor. Colbert destaca que a regra é a mesma aplicada em Salvador, em relação ao tamanho dos estabelecimentos. Há, no entanto, uma diferença importante. Em Feira, também está permitida a abertura de shoppings. As normas são válidas inicialmente até a segunda-feira, 22.
“Estamos prontos para rever qualquer decisão, caso precise voltar atrás. Verificamos aqui que, com o comércio fechado ou aberto, tivemos oscilação. No final de abril, quando fizemos uma reabertura, os bancos estavam lotados e o governo do Estado tinha liberado o auxilio aos estudantes. Hoje, as filas diminuíram muito. Deixou de ter aquele nível de aglomeração. As condições de hoje são diferentes. Mas, se entendermos que o nível de transmissão está acima, tomaremos medidas de fechamento”, disse Colbert.
De acordo com o prefeito, a taxa de ocupação dos leitos na cidade está em torno de 80%, tanto na rede pública como particular. (A Tarde)