Conter o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva na Bahia. Esse é o principal foco do entorno do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, que já iniciou o rascunho da candidatura dele ao governo estadual em 2022. O ex-presidente é um cabo importante nos processos eleitorais baianos desde 2006, quando a onda vermelha superou o decadente carlismo. Sem Lula, o embate entre ACM Neto e Jaques Wagner, nome do PT nessa disputa, seria um combate ombro a ombro. Com Lula, a cena muda de configuração.
O ex-prefeito de Salvador colocou o “bloco” na rua com uma série de viagens pelo interior do estado. Dividiu a Bahia em regiões e vai percorrê-las quinzenalmente para tentar tornar o próprio nome conhecido fora do eixo da capital, de onde saiu bem avaliado após oito anos de mandato. Além das visitas, ACM Neto vai pinçar aliados que possam ser pontos avançados para negociações políticas no varejo. No atacado, ele consegue convencer partidos e caciques a caminhar com ele, dado o exemplo da articulação feita para a sucessão dele na prefeitura.
Há um esforço reiterado desse grupo político em conter o eventual crescimento de Lula para que essas conversas consigam avançar. A sombra do ex-presidente assusta, pois ele é capaz de mobilizar as legendas, independente do espectro político. E a perspectiva de vitória do petista no Palácio do Planalto é um catalizador para que os aliados dele também embalem. Por isso, os adversários do PT na Bahia citam até mesmo o estabelecimento de um teto, para ter uma margem segura na avaliação dos riscos eleitorais.
Por enquanto, ACM Neto vai evitar ao máximo nacionalizar a disputa local. Ele sabe que a federalização, via dicotomia já desenhada entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro, tende a prejudicá-lo. Razão pela qual existe a mobilização do DEM e de aliados para tentar viabilizar uma terceira via. Caso não seja possível uma candidatura com musculatura, o ex-prefeito de Salvador ficará numa encruzilhada e tanto, sendo obrigado a escolher um lado – ainda que o faça a contragosto (sim, ACM Neto não é bolsonarista, apesar de adversários tentarem pintá-lo como tal).
Manter pontes e o diálogo aberto para 2022 é o caminho possível para enfrentar a onda Lula na Bahia. É uma espécie de política de contenção de danos. Wagner tem um “padrinho” famoso e a máquina estadual na mão. ACM Neto terá que se agarrar a outra boia para evitar que a candidatura construída com bastante cautela até aqui não seja sugada pela força eleitoral que o ex-presidente tem. Para além de tomar conta da própria campanha, o ex-prefeito de Salvador terá que estimular todas as outras contra Lula. (Bahia Notícias)