Poucas harmonizações geraram tantos memes como a feita por Stênio Garcia, de 91 anos. A revelação do resultado, com o rosto dele ainda inchado, virou motivo de chacota.
O veterano ator disse ter se submetido ao procedimento estético para “voltar ao mercado”. Tenta conseguir novos trabalhos desde o fim do contrato com a Globo, em 2020. A emissora não quis renová-lo.
Dilma Campos era uma das Patativas do ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, na TV Cultura Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV
Passarinha do ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ se tornou poderosa executiva da publicidade
Você pode argumentar: “ah, mas ele já fez muita coisa, ganhou um bom dinheiro, deveria se aposentar, aproveitar a vida”. Não é justo fazer um julgamento tão simplista.
Cada um tem seu próprio tempo, necessidades e anseios. Diferentemente da maioria das pessoas em outras profissões, o ator não pensa em parar apenas porque envelheceu.
O talento não tem idade. Aliás, em muitos casos, o auge da carreira acontece após os 60, 70, 80 anos. Dois exemplos: Beatriz Segall atingiu o estrelato como Odete Roitman em ‘Vale Tudo’ quando tinha 63 anos. Jessica Tandy ganhou o Oscar por ‘Conduzindo Miss Daisy’ aos 81.
Sem convites para trabalhar, Stênio fez o mesmo que inúmeros homens e mulheres ao avançar à maturidade: tentar amenizar as marcas do tempo na tentativa de driblar o preconceito contra velhos. O etarismo não é mimimi. Acontece, segrega, exclui, machuca.
Note o que aconteceu recentemente no jornalismo da Globo. A maioria dos repórteres experientes foi demitida. Teoricamente, por terem os salários mais altos. Na prática, também para se promover renovação etária no departamento.
Quantos daqueles jornalistas ainda tão produtivos conseguirão novo emprego? Poucos. O mesmo ocorre com os atores dispensados nos últimos anos. Uma minoria foi escalada para outro trabalho.
Vivemos numa sociedade, e em um tempo, de hipervalorização da juventude e da beleza perfeita – este, um conceito irreal, cruel, preconceituoso. Para parcela dos ‘novinhos’, quem tem 30 anos já é ‘coroa’. Eles terão terrível crise de identidade quando o espelho denunciar a ação irrefreável do tempo.
Exagero à parte, a transformação facial de Stênio Garcia não tem nada de engraçada. É a imagem de um grande ator, com interpretações importantes na teledramaturgia, pedindo uma chance a autores, diretores e produtores de elenco. Será ouvido? (Terra)