Em fevereiro de 2023, a Mundipharma, gigante farmacêutica, celebrou os 10 anos de sua operação no Brasil com uma festa de quatro dias no resort Villa Rossa. Entre os destaques da celebração, uma festa de carnaval e a entrega de medalhas para os funcionários que impulsionaram as vendas de opioides, medicamentos que causaram uma grave crise de saúde nos EUA, com mais de meio milhão de mortes. Apesar do slogan da empresa, “Construindo um futuro com precisão”, uma investigação conduzida pelo Metrópoles e outros veículos revelou que a Mundipharma ainda adota práticas de marketing semelhantes às usadas na crise de opioides americana.
A investigação demonstrou que a empresa no Brasil continua promovendo o uso de opioides como a oxicodona, apesar das evidências científicas sobre os riscos de dependência. A Mundipharma minimiza a possibilidade de uma crise similar à dos EUA e financia eventos educativos para médicos sobre opioides, controlando o conteúdo apresentado. Embora o Targin, um dos produtos mais recentes da empresa, combine oxicodona com naloxona para reduzir efeitos colaterais, especialistas afirmam que a dependência não é totalmente mitigada.
Desde a chegada da Mundipharma ao Brasil em 2013, a empresa tem trabalhado para aumentar a prescrição de opioides, como o OxyContin e o Restiva, substituindo gradualmente o medicamento mais problemático nos EUA. Apesar de alegações de que os produtos no Brasil são diferentes dos vendidos na década de 1990 nos EUA, os dados históricos e os estudos indicam que as práticas de marketing e a venda de opioides ainda levantam preocupações.
O aumento da prescrição de opioides no Brasil é acompanhado de perto por especialistas e instituições, como a Rede D’Or, que monitora o uso de substâncias opiáceas. O crescimento do mercado de opioides levanta questões sobre a possibilidade de uma crise similar à dos EUA, e especialistas alertam para a necessidade de um controle mais rigoroso e melhor educação médica para evitar o agravamento da situação.
Virginia Woolf, em um ensaio de 1926, já refletia sobre a dificuldade de expressar a dor, um problema que persiste, apesar dos avanços médicos e das estratégias de marketing das grandes farmacêuticas.