Os versos da música O Tempo, de Nenzin MC, rapper de Ceilândia (DF), resumem não apenas sua trajetória, mas a essência transformadora do hip hop.
Aos 29 anos, Jonathan Williano, conhecido artisticamente como Nenzin, começou a criar músicas aos 15, enfrentando dúvidas sobre a viabilidade da arte como profissão, inclusive dentro de casa. Hoje, além de compor, ele organiza batalhas de rap que geram cerca de 200 empregos diretos e indiretos em sua cidade.
“Depois do rap, tudo mudou. A minha família entendeu que a música ia ser o que ia pagar as contas da nossa casa. Além disso, a gente gera uma economia para dentro da nossa cidade com cultura, diversão e arte”, afirmou o artista.
A transformação de Nenzin MC foi impulsionada pela ONG Jovem de Expressão, onde ingressou aos 18 anos. O projeto oferece cursos gratuitos para jovens da periferia, utilizando a cultura hip hop como base para empoderamento social.
Reconhecimento como patrimônio
Em busca de maior valorização e recursos para o movimento, artistas e ativistas participaram do 1º Seminário Internacional Construção Nacional Hip-Hop, encerrado neste sábado (30), em Brasília. Durante o evento, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, manifestou apoio à campanha para que o hip hop seja reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Claudia Maciel, educadora e ativista, destacou a importância do reconhecimento oficial. “A nossa cultura é vilipendiada. A gente busca o direito de exercer a nossa cultura nas ruas. Esse seminário é fruto de um pacote robusto de entregas do Ministério da Cultura para nós.”
Hip hop e inclusão social
O movimento hip hop tem se mostrado uma ferramenta poderosa para inclusão social e geração de renda. Segundo Antônio de Pádua Oliveira, diretor da Jovens de Expressão, a cultura não apenas impacta a música, mas também moda, literatura, dança e produção audiovisual.
Exemplo disso é Ricardo Soares Azevedo, conhecido como Palito, de 31 anos, que iniciou sua trajetória no audiovisual por meio da ONG. Após aprender a filmar, passou a registrar eventos e clipes de artistas da cidade, vivendo hoje exclusivamente de sua profissão.
Seu curta Faz seu Corre, de 23 minutos, foi selecionado para a Mostra do Festival de Cinema de Brasília, narrando a realidade de jovens de periferia que encontram na arte uma oportunidade para superar adversidades.
O movimento hip hop, portanto, segue como uma força cultural e social, transformando vidas e promovendo resistência nas periferias brasileiras.