Antes da internet, descobrir a existência do Papai Noel era uma tarefa que exigia planos como espiar a lareira ou ficar acordado até tarde. Hoje, uma busca rápida no Google pode revelar a resposta, levantando a questão: será que isso acaba com a magia do Natal?
Soraia Santos, funcionária pública de 46 anos e mãe de duas meninas em Salvador, já percebe os desafios da modernidade.
“Minhas filhas, de cinco e sete anos, questionaram como o Papai Noel podia estar em dois shoppings ao mesmo tempo. Expliquei que eles são ajudantes do verdadeiro Papai Noel, mas sei que a internet pode acabar com essa fantasia rapidamente”, compartilha.
De fato, dados indicam que a busca pela verdade sobre o Bom Velhinho cresce a cada ano. Segundo o site “Exam Papers Plus”, mais de 1,1 milhão de crianças consultaram o Google ou redes sociais sobre o tema em 2019. Em 2023, pesquisas globais pelo termo “o Papai Noel é real” cresceram 5.800%.
Para o Papai Noel do Shopping Salvador, que desempenha esse papel há 14 anos, a confusão atual reflete as mudanças culturais.
“Hoje, as crianças têm mais acesso à informação e recebem mensagens conflitantes dos adultos. É importante não tentar confundir a criança, mas também não acabar com a magia de forma abrupta”, aconselha.
Psicólogos como Jamile Souza defendem a importância da fantasia. “Acreditar no Papai Noel ajuda a desenvolver habilidades como planejamento e escrita, além de ser um canal para a criança expressar emoções e sentimentos”, explica.
No entanto, a especialista alerta que o momento de desvendar a verdade deve ser tratado com cuidado. “Os pais podem descrever o mundo do Natal e suas peculiaridades, ajudando a criança a montar o quebra-cabeça por conta própria. Cada criança tem seu tempo, e isso deve ser respeitado”, orienta Jamile.
A magia do Natal talvez não dependa apenas da resposta que o Google dá, mas do jeito como as famílias escolhem contar a história e preservar o encantamento enquanto ele ainda faz parte da infância.