Adolescente desenvolve projeto de biocombustível a partir da banana: ‘fruta mais desperdiçada do Brasil e do mundo’

Raphaella Gondim é estudante do curso técnico de química — Foto: Arquivo pessoal

A jovem Raphaella Gondim, 17 anos, é aluna do Instituto Federal da Bahia (IFBA), campus Salvador. Devido à pandemia de Covid-19 e a suspensão das aulas presenciais em toda Bahia no período, a estudante resolveu usar o tempo livre para desenvolver uma ideia que já pairava pela cabeça há cerca de dois anos: um biocombustível a base de banana.

Raphaella está no 3º ano do ensino médio na modalidade Integrada do curso de Química. Ela conta que ao estudar sobre biocombustíveis encontrou em propriedades da polpa da banana da prata um potencial para transformar a biomassa em etanol e criar um combustível sustentável.

“Comecei a pesquisar sobre possíveis opções de biocombustíveis e percebi o grande potencial das bananas como matéria-prima para a produção do etanol. Esse potencial se deve tanto às altas taxas de açúcares na fruta, como às altas taxas de perda e desperdício da mesma”.
A maior novidade é a possibilidade de reaproveitar frutas que seriam descartadas por estarem maduras demais. Isso porque quanto mais madura, menor a concentração de amido e maior a concentração em açúcares, necessários para a produção do combustível.

“O projeto tem como objetivo principal reutilizar a banana da prata que seria descartada como biomassa para produção de etanol. Inicialmente nós pretendemos recolher do restaurante do próprio campus do IFBA, que às vezes oferece bananas como sobremesa, e também na própria comunidade acadêmica”, explica.
Desta forma, a banana também foi escolhida levando em conta aquela que é mais consumida pelas pessoas e por consequência sofre mais desperdício.

“A banana é uma das frutas mais desperdiçadas do Brasil e do mundo. Pretendemos recolher frutas que já seriam descartadas. Para isso, aplicamos um questionário anônimo e impessoal em que as pessoas indicaram o grau de maturação da banana que elas costumam descartar”, conta.

A biomassa desenvolvida a partir da banana pode ter um rendimento maior que o etanol desenvolvido a partir da cana-de-açúcar. Se esta hipótese for comprovada, o combustível pode apresentar um melhor custo-benefício quando comparado a outras opções, gerando vantagens ambientais e econômicas.

A pesquisa busca associar o reaproveitamento de uma biomassa que seria descartada e a produção de um bioetanol que emite menos gases de efeito estufa.

“Existem muitas alternativas de biomassa para produção de combustíveis que muitas vezes são negligenciadas. O uso deles pode evitar, por exemplo, o desperdício de alimentos”, diz.
Em números, Raphaella almeja alcançar uma redução de aproximadamente 47,59% nas emissões de dióxido de carbono, o principal causador do aquecimento global, quando comparado ao etanol da cana-de-açúcar. Segundo ela, esta diminuição deve-se à falta do uso de cal e de fertilizantes, juntamente com a falta da queima do canavial e do palhiço – prática muito comum na produção da cana-de-açúcar.

Projeto em andamento

O projeto de Raphaella está sendo orientado pela professora de Química Orgânica, Manuela Brito. A estudante conta que a docente aceitou auxiliá-la com a pesquisa mesmo quando as aulas estavam suspensas no IFBA. No entanto, ainda não foi possível realizar testes em laboratórios do instituto, pois estão fechados por causa da pandemia do novo coronavírus.

“Começamos a pesquisa bibliográfica em julho deste ano. Mas o projeto ainda está em fase inicial e, devido à quarentena, não fomos ao laboratório ainda. Por enquanto, tenho desenvolvido experimentos em casa mesmo”, conta.
Os próximos passos, de acordo com Raphaella, é alcançar o maior rendimento possível de etanol a partir da biomassa de banana.

“Pretendo realizar testes de qualidade e continuar testando a ideia, a fim de conseguir o maior rendimento possível. Devemos começar assim que for possível a entrada de estudantes no instituto”, conclui. (G1)

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