Dos 63.127 alertas de bloqueio de smartphones emitidos pelo serviço Celular Seguro, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), até o dia 10 de julho, 5.072 foram feitos por baianos que tiveram os aparelhos roubados, furtados ou perdidos. A Bahia aparece como o terceiro estado com mais pedidos de restrição a celulares, ficando atrás apenas de São Paulo, com 18.173, e Rio de Janeiro, com 9.120.
O sistema nacional foi lançado em dezembro do ano passado e, em pouco mais de seis meses de atividade, já possui 2.119.422 usuários e 1.493.804 pessoas de confiança cadastrados. As pessoas de confiança são aquelas que têm a autorização do dono do aparelho para solicitar os bloqueios, caso o titular fique impossibilitado.
O Ministério da Justiça respondeu em nota que a ferramenta oferece os alertas de bloqueio por estado. Já os demais dados disponíveis, são todos nacionais.
No país, os pedidos de restrição de acesso aos celulares por tipos de ocorrência têm o roubo dos aparelhos como primeiro motivo do ranking, com 28.496 registros. Em segundo estão os furtos, com 20.608 e, em terceiro, a perda dos smartphones, com 16.659 cadastros.
Para o professor Arivaldo Moreira Ferreira, dos cursos de Tecnologia da Informação e Ciências da Computação da Universidade Salvador (Unifacs), recursos como o Celular Seguro funcionam, principalmente, para reduzir os riscos de roubo de dados do usuário que teve o celular extraviado.
Outra opção, segundo o especialista, é deixar tudo salvo na nuvem. Existem diversos serviços de armazenamento em nuvem, como Dropbox, iCloud, Google Drive, One Drive (Microsoft), que oferecem serviços gratuitos ou pagos.
“O Celular Seguro tem cada vez mais empresas aderindo. Nele, você faz o bloqueio de diversos serviços de uma única vez e, assim, tira a utilidade daquele aparelho, porque impede o acesso aos seus dados”, afirma o professor Arivaldo.
Ele lembra, ainda, que é importante as pessoas também lembrarem que, quando elas vão trocar de celular e, caso peguem o aparelho antigo para doar para um filho ou outro familiar, é preciso formatar antes, para apagar os próprios dados do dispositivo.
“Do contrário, fica tudo registrado ali. Eu sempre dou esse exemplo quando falo de segurança de dispositivos eletrônicos: há 20 anos, fui comprar um notebook usado, porque na época era caro adquirir um novo. Então, as lojas especializadas vendiam notebooks usados, legalizados, com nota fiscal, mas de segunda mão. Ao chegar em casa e abrir o notebook, estava cheio dos dados do antigo dono. Não houve o cuidado dele ao negociar o aparelho antigo, de formatar e limpar os seus dados”, conta.
Questão cultural
O acesso ao Celular Seguro é feito com o mesmo login do site gov.br. Os aparelhos podem ser registrados pelo endereço celularseguro.mj.gov.br ou aplicativos para sistemas Android e iOS. O serviço possibilita o bloqueio da linha telefônica do dono do celular extraviado e dos aplicativos usados no aparelho a partir do acionamento de um botão de emergência.
O professor Arivaldo acredita que é uma questão cultural o descuido de muitas pessoas com seus rastros digitais e dados salvos em dispositivos. Pela comodidade de ter tudo ali à mão e acessível mais facilmente, muitas pessoas nunca mantêm o aparelho bloqueado, por exemplo.
“Tem pessoas que usam o celular em qualquer lugar sem prestar atenção se está vulnerável a um assalto, abrem o aplicativo do banco no transporte público ou em via pública. Existem, inclusive, estudos da área de segurança mostrando o aumento do roubo durante o uso dos aparelhos, que é justamente quando está tudo desbloqueado. A pessoa que está ali acessando um e-mail, abrindo um internet banking, cria a situação ideal para o criminoso, porque ele já encontra o acesso facilitado”, adverte.
O especialista acrescenta que existem duas possibilidades no roubo de um celular: a venda das peças no mercado paralelo e a atuação de cyber criminosos que vão acessar contas e e-mails e roubar dados para usar em fraudes.
“A segurança é um conjunto de medidas, um processo educativo das pessoas. O que dá para você fazer, por exemplo, é usar uma senha biométrica. Não é perfeita, mas é ideal porque biometria é algo totalmente individual, cada pessoa vai ter a sua e pode ser a biometria com digital ou reconhecimento facial”, ensina ele, em relação a proteger os aparelhos do acesso de terceiros de forma mais eficiente.
Um recurso que vem sendo muito utilizado também, complementa o especialista, é o login com verificação de dois fatores.
Para acessar o notebook é preciso receber um código no celular, para acessar o celular, a pessoa recebe um código no e-mail, e assim por diante. “Essas são formas de você tentar dificultar o máximo possível o acesso dos criminosos aos seus dados”, afirma.
Outras proteções
Importante também, lembra o professor, é não usar o aparelho em local público em situações de vulnerabilidade e lembrar de programar o tempo de bloqueio para poucos segundos de intervalo entre o celular ficar ocioso e já escurecer a tela.
“É importante a pessoa mudar a percepção do risco de roubo, que não é só perder o aparelho. O aparelho é o mínimo. O problema são os dados, é o uso indevido, é copiar esses dados. E, para isso, nem sempre precisa que o aparelho seja levado. Um minuto de desatenção, tipo levantar da mesa e deixar o celular enquanto vai ali e volta, e alguém pode colocar algum programa de rastreamento ou de clonagem de dados. Pode ser para cometer fraudes ou mesmo para vigiar a pessoa sem que ela saiba”.
Da pandemia para cá, lembra Arivaldo Ferreira, as pessoas passaram a utilizar cada vez mais a internet, os celulares e notebooks, porque muita gente passou a trabalhar e estudar remotamente, aumentando muito a quantidade de gente conectada em rede.
“Também entraram muitos novos usuários, tanto de pessoas mais velhas quanto de mais jovens, como crianças, que às vezes não tem uma malícia para entender que aquele link que você recebeu por SMS não é para abrir e que aquele e-mail pode ter um malware malicioso escondido”, acrescenta.
Fonte: Portal A TARDE