Uma pesquisa feita pela Fiocruz – ‘Trajetória das mulheres na definição pelo parto cesáreo’ acompanhou 437 mães que deram à luz no Rio de Janeiro. No início do pré-natal, 70% delas não tinham a cesárea como preferência. No entanto, 90% delas acabaram dando à luz por meio do procedimento cirúrgico. Desse total, em 92% dos casos, a cirurgia foi realizada antes de a mulher entrar em trabalho de parto.
A pesquisa reitera um fato comum em grande parte das maternidades brasileiras que coloca o Brasil como 2o país que mais realiza cesáreas no mundo, superado apenas pela República Dominicana. De acordo com a ginecologista e obstetra baiana, doutora Mônica Neri, o medo da dor no momento do parto é um dos grandes motivos de as mulheres optarem pela intervenção cirúrgica.
“Infelizmente, por conta de muitas parturientes serem expostas a situações traumáticas de dor extrema durante o parto, muitas mulheres optam pela cesariana como prioridade. No entanto, é possível utilizar métodos de alívio da dor durante o trabalho de parto”, explicou a especialista.
Com o objetivo de aumentar a satisfação das gestantes no momento do parto e reduzir o desejo por cesarianas ocasionado pelo medo da dor, liderou, juntamente com a Profa. Maria do Carmo Leal, da Fiocruz, um projeto que visa ampliar o acesso à analgesia em trabalho de parto em maternidades brasileiras. A equipe de trabalho, composta por profissionais de saúde de duas maternidades-piloto, uma em Fortaleza e outra no Rio de Janeiro, realizou visitas técnicas nas maternidades Jeanne de Flandre, em Lille, e Regional de Angers, ambas na França, entre os dias 13 e 21 de dezembro.
“É uma questão de acolher o desejo da mulher de não querer sentir dor. A mulher deve ter o direito assegurado de realizar o parto normal com todo o amparo para minimizar a dor. Como são feitos cada vez menos partos normais, precisamos definir fluxos e protocolos, bem como sensibilizar e capacitar os profissionais e gestores para investimento em ações de acolhimento e alívio da dor durante o parto natural. Acreditamos que seja uma estratégia importante para reduzir o percentual de cesárea no país”, afirmou.
O projeto coordenado pela Fiocruz – conta também com apoio do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (Universidade Federal da Bahia) –, é financiado pela Embaixada da França e pelo Ministério da Saúde francês. (Bahia.ba)