Conheça a história do retrato de Belchior que desapareceu junto com o músico

Foto: Reprodução / Dulce Helfer

Um retrato de Belchior pintado pelo artista mineiro Carlos Bracher, de 80 anos, desapareceu assim como fez seu retratado. Cinco anos depois da morte do músico, Bracher e sua família tentam reencontrar o quadro realizado durante uma visita do cantor à sua casa, em Ouro Preto, na região central de Minas Gerais. 

Em meio a uma de suas andanças pelo país, Belchior bateu sem aviso na porta da casa de Bracher, conta o pintor. Os dois não se conheciam, mas tiveram uma conexão muito forte. 

“Foi uma das coisas mais incríveis da minha vida. Foi um negócio totalmente inusitado e inesperado. Geralmente, esses encontros são marcados com antecedência, essa é a norma social, né? Ele não! Ele chegou, bateu na porta da minha casa e de repente eu estava diante do Belchior”, diz Bracher. 

Segundo o artista, ele convidou Belchior para entrar, eles conversaram por algumas horas e visitaram seu ateliê, onde ele mostrou suas pinturas ao cantor. Belchior se encantou, especialmente, pelos retratos pintados por Bracher. 

“Não me lembro se foi ele que pediu para fazer um retrato dele, ou se fui eu que ofereci. Então fizemos, ali na hora.” 

A atriz Larissa Bracher, filha do pintor, diz que sua principal lembrança do encontro foi notar quanto Belchior era culto. Ela diz também ter se surpreendido com o fato de ele ter vivido por anos num seminário. 

“Ele nos mostrou um livro que ele estava escrevendo, um livro grande, caneta tinteiro, tipo bico de pena. Ele fazia as pautas com uma lapiseira bem fininha e depois apagava, mas era um livro sem pauta e ele escrevia com uma letra bem medieval, bem rebuscada”, conta ela. 

Pai e filha também recordam que o cantor havia decorado a obra “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Belchior teria recitado trechos da obra durante o encontro com a família Bracher. No mesmo dia, quando foi embora, o cantor levou o quadro. Bracher nunca mais soube onde estava a pintura. 

A filha Larissa Bracher foi quem começou a busca pelo retrato. Ela fez um post em sua conta no Instagram em homenagem aos cinco anos de morte do cantor neste ano e falou sobre a obra desaparecida. 

Segundo ela, a primeira vez que procuraram pelo quadro foi em 2014, ainda antes da morte de Belchior. À época, seu pai apresentava a mostra “Bracher: Pintura e Permanência” no Centro Cultural Banco do Brasil, que tinha uma seção dedicada aos retratos assinados por ele. 

Bracher já pintou mais de 300 retratos. Estavam presentes na exposição quadros representando Chico Buarque, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Jorge Amado, Bibi Ferreira, Leonardo Boff e até mesmo o americano Tony Bennet. 

Naquele ano, o quadro de Belchior não foi encontrado para integrar da exposição. Agora, a família Bracher tenta mais uma vez descobrir onde está a obra. “Esse quadro do Belchior a gente nunca mais conseguiu. Parecia realmente uma aparição. Do nada veio e do nada desapareceu”, diz Larissa. 

Ela e o pai dizem não se lembrar da data em que aconteceu a visita em que o retrato foi pintado. Ela se lembra que era um mês de férias, provavelmente julho, e que ela tinha ido do Rio de Janeiro para a casa dos pais, em Ouro Preto. 

A família diz que, caso consigam reaver o retrato, ele terá um espaço de destaque no Ateliê Casa Bracher. Lá estão expostas diversas obras do artista e de sua mulher, a também pintora Fani Bracher. O pintor acredita que Belchior possa ter deixado o quadro por algum dos lugares onde passou durante suas andanças. O cantor morreu em abril de 2017, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, aos 70 anos.

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