A crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus está provocando a migração de alunos da rede particular para a pública.
Só no Paraná, o fenômeno já atingiu 7.763 estudantes nos últimos dois meses, de acordo com a secretaria de educação do estado.
Em nível nacional, o cenário ainda é desconhecido, já que muitos estados ainda estão coletando os dados de entrada de estudantes na rede pública.
O Paraná foi um dos primeiros estados a implementar a educação a distância na rede pública em decorrência da pandemia, no início de abril. As aulas são transmitidas na TV aberta, por aplicativos de celular, no YouTube e, para os alunos sem acesso digital, por meio da entrega de material impresso.
Além do Paraná, nove estados foram procurados pela Folha, em todas as regiões do país. Apesar de não haver números fechados, de maneira geral, as secretarias de educação dos estados em que a EAD está funcionando neste período confirmaram que já há um acréscimo de alunos.
Em São Paulo, o secretário municipal de educação, Bruno Caetano, admitiu que já começou a ocorrer uma migração de alunos da rede particular para a pública.
“Decidi migrar para a escola pública para priorizar nossa saúde mental e emocional, além da financeira”, conta a jornalista Camila Raugust, 41, que sustenta sozinha a filha de nove anos. Até março, a criança estudava num colégio particular de Porto Alegre (RS).
Autônoma e ligada ao setor de eventos, Camila sofreu uma queda na renda no primeiro semestre do ano, o que tornou mais difícil o pagamento da mensalidade de R$ 1.500. Graças a indicações de outras mães, ela escolheu um colégio estadual perto de casa.
“Saímos de lá com planos de reforçar a biblioteca, ajudar em reformas dos espaços e tudo que for possível, pois sabemos que o ensino público tem várias necessidades”, aponta.
Apesar do movimento, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Curitiba (Sinepe/PR) avalia que o volume da migração não é significativo diante dos cerca de 480.000 alunos da rede privada do estado.
“A gente está trabalhando para não perder estudantes. A nossa filosofia é o diálogo com a família, chamar para perto, não só dando ajuda financeira ou desconto”, explica Esther Pereira, presidente da entidade.
“Está pegando o lado emocional neste momento, os pais estão sofrendo muito, perdendo emprego, renda”, complementa.
A saída de alunos da rede particular já forçou as instituições a obrigarem os alunos e responsáveis a apresentarem atestados de vaga na escola pública, depois de constatados casos de famílias que estavam deixando os filhos sem ensino formal no período de pandemia.
Esther destaca que a migração não é indicada nesse período, pois além da mudança de metodologia e didática, o aluno tem que se adequar às diferenças no ensino à distância, dificultando ainda mais a adaptação.
“Ir para a escola pública é um sofrimento muito grande nesse momento, a família tem vínculo com a escola em que o estudante estava”, avalia.
De acordo com a secretaria estadual de educação, por enquanto, a rede pública no Paraná está dando conta das novas matrículas, graças ao ensino à distância.
Diretora de planejamento e gestão escolar, Adriana Kampa destaca que o estado ainda possui cerca de 100 mil vagas presenciais disponíveis. “Mas não vai ter lugar no momento ou na instituição que o pai escolhe”, alerta.
Ela aponta, no entanto, para uma provável falta de lugares nas turmas presenciais se houver o retorno dos alunos às escolas ainda durante o período de pandemia, devido às medidas de distanciamento social a serem observadas.
Para facilitar a transferência, o governo estadual reforçou o trabalho nos núcleos regionais, que estão divulgando uma nova ferramenta online para ajudar as famílias. Ao todo, 1,03 milhão de alunos estão matriculados na rede pública de ensino do Paraná, de acordo com a Sinopse Estatística da Educação Básica de 2019.