Circula nas redes sociais que os chamados termômetros de testa, de raio infravermelho, que vêm sendo usados para aferir a temperatura de frequentadores no comércio, fazem mal à saúde e à visão, podendo até a levar a casos de câncer e cegueira. É #FAKE.
Consultado pela CBN, o clínico geral e o cardiologista Marcelo Sampaio, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma que o uso deste tipo de termômetro é seguro. “Esse termômetro mede a temperatura de forma rápida e sem encostar nas pessoas. É um método bastante seguro, embora às vezes haja alguns problemas de precisão (da temperatura). Claro que não deve ser aplicado diretamente nos olhos, porque pode existir a possibilidade de lesões. Sobre a ocorrência de câncer, não existem relatos. Pelo contrário, o infravermelho é usado em alguns tratamentos oncológicos”, explica o médico.
Ele lembra que não se trata de uma novidade na medicina, e sim de algo inusual para o cidadão comum. “Os infravermelhos como método de tratamento são usados há muito tempo na medicina, desde a década de 50. Eles têm ação especial principalmente na área de reumatologia e na medicina estética. O que pode gerar problema é uso indevido.” O médico diz ser recomendável que a pessoa que faz a medição fique a uma distância de 50 centímetros de quem passa pela aferição.
A presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Edna Almodin, também reafirma a segurança do termômetro de testa: “Os termômetros usados no comércio não prejudicam a retina. Não é utilizado nos termômetros um laser de UV (raios ultravioletas), e sim ondas de luz de UV, que por si só não alteram nossa retina.” Ela lembra ainda que a mira é na testa apenas.
Shoppings brasileiros e outros estabelecimentos aderiram à aferição rápida de temperatura de clientes e funcionários para evitar a entrada de pessoas doentes. O termômetro, que conta com um gatilho, é apontado para a parte frontal da testa. Em geral, o parâmetro é a temperatura de 37,8ºC. Se a pessoa estiver com mais que isso, o aparelho apita.
Marina Ciongoli, oftalmologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta que a aferição da temperatura dura poucos segundos. “Surgimento de câncer ou dano à retina só se pensaria se fosse uma exposição muito prolongada. Existem vários tipos de raios infravermelhos, e este dos termômetros, pelo comprimento da onda, a baixa potência e o baixo tempo de exposição, não leva a malefícios para a retina. Mas é recomendado que a gente não direcione para os olhos.”
A pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, diz que, em outras circunstâncias, o infravermelho pode ser lesivo, mas não nesta em que os termômetros de testa vêm sendo utilizados: “A exposição à luz infravermelha por longos períodos pode causar, sim, queimaduras na pele e lesões oftálmicas. Mas a exposição para aferição de temperatura é um período muito curto, não sendo lesivo à pele. E claro ninguém vai ‘mirar’ no olho da pessoa”, diz Patricia.
Ela ratifica que a luz infravermelha tem utilização médica ampla. “É usada para tratamentos de lesões como artrite, artrose, lesões musculares, e na fisioterapia, com supervisão de profissional habilitado”.
O boato tem circulado também em outros idiomas e foi alvo de checagem de agências internacionais como a AFP e o Polígrafo. (G1)