Em carta, Ilona Reis revela assédio de advogado para não ser investigada na Faroeste

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A desembargadora Ilona Reis, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), presa na Operação Faroeste em dezembro de 2020, escreveu uma carta denunciando uma trama entre o procurador-geral da República, Augusto Aras, e a subprocuradora da República, Lindôra Araújo, responsável pelas denúncias e investigação contra venda de sentenças no Judiciário baiano.

A carta foi escrita no início do mês de maio e tem 67 páginas. A magistrada, que se tornou desembargadora pelo quinto constitucional do Ministério Público, relata ter sido alvo de uma série de atos de coação e extorsão antes de sua prisão, conforme narrado pela revista Crusoé. Ilona está presa em um dos complexos do presídio da Papuda, em uma Sala de Estado Maior, junto com a desembargadora Ligia Ramos, também presa na operação. Ilona Reis foi acusada de ter recebido uma propina de R$ 450 mil de dois advogados para assinar decisões favoráveis em processos envolvendo a posse de terras na região oeste da Bahia. Ela foi alvo de uma operação controlada realizada pela Polícia Federal.

Ilona se diz inocente e que foi presa por não aceitar “comprar” sua “imunidade”, proposta pelo advogado chamado José César Souza dos Santos Oliveira, para não ser envolvida na operação conduzida por Aras, sob o custo de R$ 1 milhão. A desembargadora afirma que César Oliveira, conhecido como César Cachaça no estado, sempre recebia em seu apartamento o pai de Augusto Aras, Roque Aras. Eles teriam sido apresentados em uma dessas visitas, ainda no primeiro semestre de 2020. Diz ela: “Ele (Roque Aras) chegou trajando bermuda, demonstrando muita familiaridade com o dono da casa”. A proposta foi feita na fase inicial da operação, quando ela não sabia ao certo se seria envolvida. Nos primeiros contatos, ela pagou R$ 6 mil para o advogado ir à Brasília conversar com Augusto Aras. Logo depois, ela assinou um contrato de honorários no valor de R$ 100 mil, com um advogado indicado por César, pois a situação dela iria ficar “complicada” com o avanço das investigações, com a possibilidade de delações. Ela narra que as tratativas do pagamento de R$ 1 milhão com César Oliveira teria fracassado, pois ele ficou indignado por ela ter pedido para parcelar os R$ 100 mil do primeiro contrato de honorários. Nesse dia, o advogado teria mostrado para ela mensagens de Whatsapp que teria trocado com Augusto Aras, chamado por amigos de “Guga”. Em uma das mensagens que lhe teriam sido apresentadas pelo advogado, Aras teria perguntado, segundo a desembargadora: “E cadê o dinheiro dela?”. “Fiquei estarrecida e passei a me perguntar que interesse o PGR Augusto Aras teria no meu dinheiro”, escreve a magistrada.

Ilona Reis conta que em um encontro atrás do Shopping Iguatemi com César, ele teria a questionado de forma irônica como é que “uma desembargadora não tem dinheiro”. “Respondi: Eu vivo do meu salário. Ele riu num tom de deboche e incredulidade e disse: ‘Aqueles 100 (cem) mil reais são honorários contratados com o advogado; a senhora ainda teria de pagar 1 (um) milhão de reais aqui, e isso só para começar’. Ficou claro que o aqui se referia a ele, e o mencionado 1 (um) milhão de reais seria para iniciar o tráfico de influência. Prosseguindo, ele disse: ‘Eu falei com Guga que você não tinha cem mil reais quanto mais um milhão de reais iniciais’, e me mostrou uma conversa de texto entre ele e o PGR Augusto Aras, a quem sempre se refere informalmente como Guga”. (Fonte: Bahia Notícias)

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