As discussões em torno do combate aos acidentes de trânsito não deixam de passar pela decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de suspender os radares móveis das rodovias federais. Anunciada em agosto, a medida visa evitar o “desvirtuamento do caráter educativo” e “a utilização meramente arrecadatória dos aparelhos”, de acordo com justificativa apresentada pelo próprio governo.
Para o secretário de Saúde da Bahia (Sesab), Fábio Vilas-Boas, que está à frente do Simpósio Internacional Trânsito Seguro , a suspensão é “lamentável”. Dados apresentados pela pasta indicam que, de 2009 a 2018, foram registradas 24.479 mortes por acidentes de trânsito no estado e que, além disso, cerca de 40% das internações hospitalares na Bahia são fruto de ocorrências do tipo.
“É lamentável que se reduza o número de radares nas rodovias federais. Isso está indo na contramão do movimento que existe na área da saúde, de buscar reduzir a quantidade de acidentes”, ressalta o secretário em entrevista ao Bahia Notícias.
O mesmo foi repetido pelo titular da Secretaria de Infraestrutura, Marcus Cavalcanti. Ao se apresentar no simpósio, realizado nesta terça-feira (15) na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), o secretário criticou as ações do governo no sentido de flexibilizar as regras de trânsito. Um exemplo citado por ele foi o projeto de lei que visa extinguir a multa para quem não usar a “cadeirinha” ao transportar crianças de até sete anos em carros de passeio.
“Eu fico preocupado com essas ações do governo federal”, afirma. “Se o início [do processo] é educação, nós temos que ter uma atividade punitiva às pessoas que cometem infrações, mas, infelizmente a sociedade vê isso como uma ‘indústria da multa'”, lamenta.
De acordo com a representante da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) no evento, Kátia de Pinho, tanto nas rodovias federais quanto nas cidades, os radares são uma medida comprovadamente efetiva. Segundo ela, a Organização Mundial de Saúde (OMS) os avalia como “um instrumento importante da política nacional de segurança viárias”.
Também da Opas, o assessor de Segurança Viária Victor Pavarino preferiu não tecer críticas à suspensão, pois “todas as decisões dos países membros são soberanas”. Ainda assim, ele defendeu que os governantes repensem alternativas aos meios eletrônicos de fiscalização. (Bahia Notícias)