Após um ano, na Justiça, a Globo aceitou uma proposta de acordo e começou a receber no mês passado uma dívida de rescisão contratual de R$ 14,2 milhões das Lojas Americanas.
O valor é referente ao abandono de contrato de patrocínio do BBB 23, em janeiro do ano passado, e de outras ações, como pagamentos por intervalos comerciais que não foram honrados pela empresa de varejo.
A Folha de S. Paulo teve acesso ao pedido da empresa para se colocar na lista de credores da recuperação judicial. O grosso do valor, na casa dos R$ 12 milhões, vem da quebra de acordo para anunciar no reality show da Globo. O contrato foi firmado no fim de 2022, mas a Americanas optou pela rescisão após vir à tona um rombo de R$ 20 bilhões em seu caixa. O Mercado Livre comprou a cota de patrocínio que ficou vaga.
A Americanas também não pagou intervalos comerciais veiculados em horários de grande audiência, como em novelas das sete e das nove. Mesmo com a pendência, Globo e Americanas seguiram com algumas parcerias comerciais, especialmente em anúncio de intervalos.
Procurada pela Folha de S. Paulo, a Americanas confirmou a dívida e o parcelamento para o seu pagamento. Ainda não há previsão de quando a quantia será quitada. A varejista afirma que conversou com a Globo e que foi a empresa de mídia quem escolheu o método de pagamento.
“A Americanas informa que os valores devidos ao Grupo Globo por eventos ocorridos antes do pedido de recuperação judicial estão devidamente listados em concordância das partes no quadro geral de credores apresentado pela Administração Judicial e estão sendo pagos de acordo com a opção de pagamento aderida pelo parceiro na forma do Plano de Recuperação Judicial”, diz a nota.
Na época, a Americanas explicou ter rescindido o contrato do BBB 23 por estar “focada na gestão do negócio e no propósito de oferecer a melhor experiência a seus clientes, parceiros e fornecedores” diante do rombo de R$ 20 bilhões em suas contas. “A Globo segue como relevante parceira na estratégia de marketing e comunicação da Americanas S.A”, afirmou.
Nos últimos dias, ex-diretores da Americanas foram presos na operação Disclosure —termo em inglês para transparência de informações sobre a situação econômica de uma empresa—, deflagrada na última quinta-feira (27).
Catorze pessoas ligadas à varejista são investigadas por crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e associação criminosa. Em caso de condenação, as penas chegam a até 26 anos de reclusão.
O rombo nas contas da Americanas foi revelado no início de 2023, quando a empresa informou ao mercado inconsistências contábeis bilionárias, levando a varejista a entrar em recuperação judicial.
Estudos produzidos pela própria companhia apontaram que as inconsistências eram, na verdade, fraudes contábeis cometidas por ex-funcionários. A investigação da PF mostrou que as práticas irregulares tinham como finalidade alcançar metas financeiras internas e fomentar bonificações.
A ação dos investigados manipulava e aumentava de forma ilícita o valor de mercado das ações da companhia. Pela investigação, o ex-CEO vendeu R$ 158 milhões em ações da empresa após saber que seria substituído do comando e que as irregularidades seriam descobertas.
No total, 11 ex-executivos venderam mais de R$ 250 milhões após o aviso de troca de comando na empresa.
Fonte: Folha de S. Paulo