Lula critica governo Bolsonaro e faz promessas em primeiro discurso

Foto: MAURO PIMENTEL | AFP

Após ser oficialmente empossado no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu discurso, disse que a vencedora das eleições foi democracia e ressaltou a eficiência da votação em sistema eletrônico adotada no país e atacado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores.

Lula lembrou da promessa que fez ao assumir em 2003, de que cada brasileiro teria, em seu governo, direito a três refeições por dia, e falou que ter que voltar a ter que prometer isso na posse em 2023 é uma prova de desmandos dos anos recentes no país.

“Disse, naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer 3 refeições por dia. Ter de repetir este compromisso no dia de hoje é o mais grave sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes”.

Lula disse ainda que o seu compromisso é com a reconstrução da democracia, soberania e desenvolvimento no país que, de acordo com ele, estavam sendo “demolidos” nos últimos anos. “Nossa mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução. O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação levantou vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício que vamos dirigir todos os nossos esforços”.

O presidente destacou também a situação orçamentária do país percebida pela equipe de transição e mandou um recado aos deputados e senadores presentes no plenário Ulysses Guimarães do Congresso Nacional.

“O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública. Diante do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao Congresso Nacional propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da população que necessita do estado para sobreviver. Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente às urgências do povo brasileiro”.

Em seu discurso, Lula falou em outro trecho que o combate à pobreza e à fome será uma das principais frentes de atuação dos eu governo. “Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra”.

“Nenhuma nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria de seu povo. Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita”, continuou.

O petista disse também que a transparência de atos do governo voltará a ser uma atividade corrente, em referência aos decretos de sigilos de 100 anos adotados em diversos temas na gestão de Bolsonaro. “A partir de hoje, a Lei de Acesso à Informação voltará a ser cumprida, o Portal da Transparência voltará a cumprir seu papel, os controles republicanos voltarão a ser exercidos para defender o interesse público”.

Em seguida, o presidente seguiu fazendo referência ao seu adversário no pleito deste ano. “O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia. Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências”.

“O período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias: a Covid-19. Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças ao SUS”, declarou Lula a respeito da atuação do governo federal no combate ao coronavírus.

“Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes. O que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos familiares de quase 700 mil vítimas”, prometeu o presidente.

O petista apontou também que revogará decretos de Bolsonaro que facilitaram a aquisição de armas no país. “Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo”.

Além disso, o petista se comprometeu com o combate ao desmatamento, disse que o país deve voltar a ter protagonismo na comunidade global e que as eleições brasileiras foi um recado para a onda extremista que se manifesta no mundo. “A relevância da eleição no Brasil refere-se, por fim, às ameaças que o modelo democrático vem enfrentando. Ao redor do planeta, articula-se uma onda de extremismo autoritário que dissemina o ódio e a mentira por meios tecnológicos que não se submetem a controles transparentes”, avaliou Lula.

Antes de assinar o termo de posse, o petista quebrou o protocolo e relembrou a história da caneta com a qual assinaria o documento. De acordo com ele, a caneta foi presente de um apoiador após um comício realizado no Piauí em 1989. Lula disse que em nenhuma das outras posses como presidente utilizou o material para a assinatura do termo, mas que desta vez, finalmente reencontrou a caneta e ia fazer uso dela como homenagem ao povo do Piauí. O estado foi o que deu a maior quantidade proporcional de votos nas eleições deste ano. 

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