Médico pró-cloroquina morreu de COVID-19 e dado foi omitido, diz site

Foto: Divulgação

O pediatra e toxicologista Anthony Wong faleceu em 15 de janeiro de 2021 , aos 73 anos. Sua família informou que ele foi internado com úlcera gástrica e hemorragia digestiva, e sofreu uma parada cardiorrespiratória. Entretanto, dados da internação do pediatra foram omitidos, e ele foi internado com sintomas de COVID-19. 

Em outubro de 2020, Wong fez declarações defendendo a “intervenção vertical”, que é o isolamento apenas de idosos e gestantes, e o retorno à normalidade para a população restante. Além disso, sem base científica, ele afirmou que o brasileiro possui alta taxa de imunidade contra diversos tipos de coronavírus.

Já em 17 de novembro, o médico foi internado no hospital Sancta Maggiore do Itaim Bibi pertencente ao estabelecimento Prevent Senior, em São Paulo e informou que estava com sintomas de COVID-19 há oito dias, mas estava se automedicando com hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação científica de eficácia contra o vírus do Sars-CoV-2. Seu exame PCR deu positivo para o vírus e ele informou que era a segunda vez que contraia a doença, sendo a primeira em abril de 2020, dizendo ter sido assintomático.

Prontuário

De acordo com o prontuário médico, Wong autorizou ser medicado dentro do hospital com o “kit COVID” ( hidroxicloroquina , azitromicina e ivermectina) e outros medicamentos experimentais. Sem melhora, o médico foi entubado em 21 de novembro e a médica responsável por ele foi  Nise Yamaguchi , que foi  interrogada pela CPI da COVID  e afastada do hospital Albert Einstein após declarações xenofóbicas.

Em seus dias entubados, ele deixou de ser medicado com o kit COVID e ficou apenas com a ozonioterapia e o metotrexato venoso. Ele também desenvolveu insuficiência renal e foi retirado da intubação, para ser submetido a um procedimento mais invasivo de traqueostomia.

Antes de sua morte, Wong sofreu uma pneumonia bacteriana que não cedia à medicação aplicada e era outra consequência da COVID-19, pois estava com um procedimento invasivo que corria riscos de infecções bacterianas. Ele sofreu um choque séptico após a infecção se espalhar pelo seu corpo e provocar falência dos órgãos e uma parada cardiorrespiratória.

O prontuário mostra que as decisões eram tomadas por Yamaguchi, mas quem executava os procedimentos era a médica Fernanda Igarashi, que assinou o atestado de óbito. Foi indicado fazer um novo exame PCR do paciente, mas o resultado não foi anexado ao prontuário.

No atestado de óbito, de acordo com a orientação das secretarias de Saúde dos estados, deveria informar que Anthony Wong teve COVID, pois a infecção pelo vírus foi o que desencadeou complicações que levam à sua morte.

Em março de 2021, dois meses após a morte do médico, havia informações de que ele faleceu por causa do coronavírus. No prontuário, consta que 123 funcionários do Sancta Maggiore prestaram atendimento ao toxicologista durante a sua internação e mantiveram sigilo sobre o tratamento precoce, tratamentos experimentais e a causa da morte do paciente.

Procurada pela “Piauí”, a Prevent Senior disse que não comentaria casos específicos de pacientes sem autorização da família. A viúva de Wong, Carla, enviou nota à reportagem: “A família informa que não tem poder para alterar nenhuma informação no atestado de óbito e vê com incredulidade a invasão do prontuário. Informa ainda que não existe nada a ser dito e pede que respeite o nome do doutor Anthony Wong.”

Anthony Wong

Celebridade nas redes sociais bolsonaristas, Wong negava a pandemia, a vacinação e fazia parte do trio de médicos, com a imunologista e oncologista Nise Yamaguchi e o virologista  Paolo Zanotto .

Wong possuía um canal no YouTube e no Instagram, onde publicava sua opinião e tinha milhares de seguidores. Após seu falecimento, a família excluiu seus canais e não deram entrevista. (EM)

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