Novo mandato de Trump pode dificultar a exportação de biocombustíveis brasileiros

Especialistas apontam obstáculos para o setor devido a barreiras tarifárias e políticas de fechamento econômico nos EUA

O retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, confirmado nas eleições desta terça-feira (5), deve representar novos desafios para a transição energética e a exportação de biocombustíveis brasileiros, de acordo com especialistas que participaram do painel “Incentivos aos Biocombustíveis”, realizado na terceira edição do Seminário Energia Limpa, promovido pela Folha de S.Paulo no dia 6 de novembro.

O evento contou com o patrocínio da Apex, além do apoio das montadoras BYD e Toyota e da siderúrgica ArcelorMittal.

Floriano Pesaro, diretor de gestão corporativa da Apex, destacou que a vitória de Trump pode dificultar o comércio exterior, especialmente devido às barreiras tarifárias prometidas pelo presidente eleito.

“As perspectivas se tornam mais desafiadoras, porque há uma clara intenção de um fechamento maior da economia americana”, afirmou Pesaro, lembrando que Trump considera “tarifa” a “palavra mais bonita do dicionário” e planeja aumentar em 10% a 20% as taxas sobre praticamente todas as importações, incluindo aquelas de países aliados.

No ano passado, o Brasil exportou cerca de US$ 252 milhões em etanol e US$ 70 milhões em biodiesel para os Estados Unidos, tornando o país o terceiro maior comprador desses produtos brasileiros, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Rosana Santos, diretora-executiva do think tank E+ Transição Energética, expressou preocupação com a reeleição de Trump devido à sua oposição a iniciativas de descarbonização.

“Vai ser bem mais desafiante, porque a gente tinha começado a ver algumas partes dos Estados Unidos ajudando nas negociações internacionais sobre biocombustíveis. Não sei como isso vai ficar agora”, disse Rosana, reforçando a necessidade de o Brasil buscar aliados internacionais.

Busca por uma rota nacional de descarbonização

Os especialistas destacaram o potencial do Brasil para a produção de biocombustíveis como etanol e biometano, sugerindo que o país siga uma rota própria de redução de emissões em vez de copiar iniciativas estrangeiras.

Rosana Santos argumentou que o biometano, obtido pela purificação do biogás, poderia substituir o gás natural em diversos processos, reduzindo em até 80% as emissões de gases do efeito estufa.

A produção nacional de biogás ainda é pequena comparada ao seu potencial. Em 2021, o Brasil operava 755 plantas de biogás, com uma produção de 2,3 bilhões de metros cúbicos, enquanto a capacidade estimada é de 84 bilhões de metros cúbicos por ano, segundo a Associação Brasileira de Biogás e Biometano.

Alessandro Gardemann, da Geo Biogás & Carbon, destacou a importância da recém-aprovada Lei do Combustível do Futuro, que prevê o aumento gradual da mistura de etanol e biodiesel nos combustíveis fósseis. “A lei foi clara ao criar uma âncora de demanda futura, dando segurança e previsibilidade para os investidores”, disse Gardemann.

No entanto, ele ressaltou que os preços dos biocombustíveis precisam ser competitivos para atrair os consumidores, alertando que “a sociedade não está disposta a pagar pela inflação verde”.

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