Se ocorrer, isso constitui crime de responsabilidade, passível de processo de impeachment. Os brasileiros concordam majoritariamente com isso: para 76% deles, a abertura deve ocorrer se Bolsonaro fizer o prometido.
É o que mostra o Datafolha, em pesquisa nacional feita em 190 cidades com 3.667 eleitores de 13 a 15 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Acreditam que o presidente não deveria ser punido nessas circunstâncias 21% dos ouvidos, e 3% não souberam opinar.
Num dia em que participou de dois grandes protestos golpistas contra o Supremo (particularmente Moraes, o relator do inquérito das fake news que pode causar problemas para o presidente, sua família e apoiadores), Bolsonaro desfiou um rosário de ameaças.
Primeiro, em Brasília, disse que o presidente do Supremo, Luiz Fux, deveria enquadrar Moraes, sob pena de ver uma intervenção em seu poder. Em São Paulo, à tarde, exortou a desobediência judicial.
“Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”, afirmou Bolsonaro na avenida Paulista.
São mais incisivos acerca do golpismo da fala os jovens de 16 a 24 anos (86% defendem o impeachment no caso), os mais pobres (82%) e, claro, aqueles que reprovam o presidente (94%).
Já são mais tolerantes com o desrespeito legal os mais ricos (32% não veem necessidade de um processo), empresários (39%) e, também de forma mais óbvia, os que aprovam o desempenho presidencial (59%).
O 7 de Setembro foi o auge de uma crise institucional provocada durante meses por Bolsonaro, e gerou reações. Inicialmente retóricas, elas ganharam corpo na forma de movimentação de atores políticos em torno da possibilidade de um impeachment.
Bolsonaro recorreu então ao ex-presidente Michel Temer (MDB), que o ajudou a confeccionar uma nota de recuo em que não retirava a discordância de Moraes, mas dizia que suas palavras duras eram resultado do “calor do momento” e que o ministro era um “jurista e professor” (e não “canalha” que havia proferido).
“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, disse Bolsonaro, para quem quis acreditar –basicamente o centrão, que sustenta o governo e tem as chaves da abertura de um processo de impeachment nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Isso dito, é certeza na classe política que a moderação bolsonarista é transitória, ainda mais com o agravamento da situação econômica e o aumento da rejeição do presidente, como o Datafolha atestou, o que dificulta sua tentativa de reeleição no ano que vem. (Bahia Notícias)