Perfil de adoção no Brasil é de menina, branca de até 2 anos; Bahia tem fila de 150 crianças e adolescentes aguardando um lar

Foto: Divulgação / DPE

Certa vez, a assistente social Nívea Santos, 36 anos, foi questionada sobre o motivou que a levou a adotar seis filhos. “Não tem um motivo. Eu via a tristeza deles no abrigo quando a gente ia embora e eles pediam para levá-los”, respondeu. Ela trabalhava em um abrigo em 2013 quando adotou seus dois primeiros filhos, duas jovens que iriam completar 18 anos e teriam que encarar o mundo a partir daquele momento sem o amparo de uma família.

Cinco anos depois, acolheu uma jovem de 20 anos que relatava não ter condições emocionais e financeiras para cuidar de dois filhos pequenos. Ela acabou virando ‘mãe e avó’. A jovem acabou engravidando novamente e, atualmente, ela tem a guarda de mais uma criança. No total, são seis filhos, três adultos, três crianças e quatro deles com algum tipo de deficiência.

Nívea é uma das personagens da campanha ‘Ame e Adote’ da Defensoria Pública do Estado (DPE/BA). A ação quer chamar a atenção para o ato de se permitir amar sem estabelecer um perfil de quem irá receber este amor. É justamente a criação de um perfil específico que torna os abrigos provisórios moradia permanente para milhares de crianças no Brasil até completarem 18 anos. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na Bahia há 150 crianças e adolescentes disponíveis para adoção  e 1.139 pretendentes. No Brasil, são 32.568 pretendentes e 4.317 disponíveis. 

Perfil – A defensora pública Gisele  Aguiar, coordenadora da área especializada nos direitos da criança e do adolescentes, explica que a maioria dos pretendentes na fila da adoção estabelecem o perfil de uma criança de até dois anos, branca e do sexo feminino. “A conta nunca vai fechar porque na Bahia a maioria é criança parda ou negra, acima de cinco anos, com irmãos, adolescentes ou crianças portadores de alguma deficiência física ou mental”, afirma. 

A defensora faz um apelo para as pessoas se permitirem ao amor. Visitar as instituições para ter um encontro com as crianças e adolescentes que esperam pelo carinho de uma família. “Há quatro anos uma personagem de nossa campanha disse que só queria uma menina de até dois anos. Ela visitou uma instituição e acabou se apaixonando por um menino de oito anos. A adoção tem de ser esse encontro de pessoas, não a criação do perfil de uma criança perfeita”, destaca. 

Nívea Santos, que conheceu parte de seus filhos no abrigo onde trabalhou, conta que é uma missão muito difícil criar seis pessoas. Ela está desempregada devido a uma síndrome rara que ela foi acometida, mas conta com a ajuda de parentes e amigos para sustentar a família. Apesar de toda a dificuldade, ela não se arrepende. 

“Passei por um processo de depressão e, se não fossem eles, eu não teria força, impulso para levantar da cama, para sair, para reagir. É a minha família e eu sou extremamente feliz. Nasci para ser mãe deles. Acho que Deus me colocou no mundo para ser mãe deles”, ressalta Nívea. 

Para quem tem o desejo de adotar, ela deixa um conselho. “Dê a oportunidade a uma criança, a um adolescente de ter uma família, de ter carinho, de ter amor. Se você tem o desejo, adote porque vai receber muito amor. Os aborrecimentos no futuro é algo que não se pode prever, porque os próprios filhos biológicos apresentam problemas. Eu faria tudo de novo”, afirma. (Metro1)

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