A expectativa da população em relação à redução da corrupção no país sofreu queda expressiva nos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro (PSL), de acordo com pesquisa do Datafolha.
Segundo o instituto, 40% dos entrevistados entendem que a corrupção vai aumentar a partir de agora, ante 35% que avaliam que ela vai diminuir e 21%, que vai ficar como está.
Em pesquisa feita em dezembro, último mês do governo Michel Temer (MDB), 58% disseram que a corrupção iria diminuir e 19% opinaram que iria aumentar.
O Datafolha ouviu 2.086 entrevistados nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Os dados mostram que a opinião mais pessimista tende a acompanhar o perfil de quem também é mais crítico ao novo governo, como mulheres, jovens de 16 a 24 anos e eleitores do Nordeste.
Entre quem avalia o governo Bolsonaro como ótimo ou bom, o índice de pessimistas em relação a esse problema cai para 20%. No Sul, vai a 35%.
Durante a campanha, Bolsonaro investiu no discurso contra a corrupção como forma de marcar posição em relação a partidos alvejados pela Operação Lava Jato, especialmente o PT, que teve seu principal líder, o ex-presidente Lula, preso no ano passado.
O vínculo com essa demanda se fortaleceu com a nomeação do ex-juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná, para o Ministério da Justiça, anunciada dias depois do segundo turno.
Mas, desde então, a bandeira anticorrupção foi abalada por dois fatores. O primeiro foi a revelação, ainda antes da posse, de movimentações atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, registradas em relatório do Coaf, órgão de inteligência federal. O caso envolveu o novo governo diretamente porque Queiroz, na época em que era assessor, destinou um cheque de R$ 24 mil para a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O presidente disse se tratar da devolução de um empréstimo, mas nunca apresentou comprovação de que tenha repassado dinheiro anteriormente ao ex-assessor.
Além disso, em fevereiro uma série de reportagens da Folha de S.Paulo mostrou que o PSL lançou candidaturas de laranjas para o Legislativo para preencher cotas de mulheres em coligações em Minas e em Pernambuco. A Polícia Federal vê indícios de que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que presidiu o diretório mineiro, tem participação nas irregularidades.
Em Pernambuco, o caso envolveu Luciano Bivar, presidente nacional do partido e deputado federal. A crise política deflagrada provocou ainda a saída do primeiro ministro da nova gestão, Gustavo Bebianno, que tinha sido indicado para a Secretaria-Geral da Presidência após coordenar a campanha eleitoral no ano passado. (Folhapress)